"I am the sheep that got lost, Madre."

Minha mãe gosta bastante dos filmes do Denzel Washington, e por um tempo, eu também gostei. Até que... comecei a ver sempre aquele "negão malandro" (sem preconceito, mas é estereotipado), justamente no filme que lhe rendeu um Oscar de melhor ator, Dia de Treinamento (2001). Até hoje não consigo entender o que aquele filme tem de tão bom, por sinal; vai ver, é só mais um dos que eu preciso ver de novo.

De qualquer maneira, do mesmo jeito que ele é sempre o tal "malandrão", Anthony Hopkins é o "velho sábio", como em Um Crime de Mestre (2007), bem overrated, na minha opinião. Acho que o mais irritante é a carinha de "Eu sei de algo que você não sabe" o tempo todo, irrita demais! E eu sei que ele é um baita ator, assim com Denzel Washington - Hurricane - O Furacão (1999) e O Gângster (2007) não me deixam mentir, por exemplo. No começo dos anos 90 ele fez outros bons filmes, mas é só procurar que dá pra achar e eu paro de babar no ovo dele, mesmo porque não é o caso.

O caso é que Chamas da Vingança (2004) foi um filme que inicialmente gerou em mim uma certa... preguiça. Lá ia o macho malandrão passar por um perrengue, ter uma crise de consciência, e matar todo mundo, vivendo seu dia de anti-herói. Mas todo mundo falava que é tão bom, o IMDb dá um respeitável 7.7... e eu finalmente vi o nome de Tony Scott lá.

Dizem que a gente sempre acaba se identificando com a "voz" de um diretor, mas eu acho que é mais do que isso; tem um pra cada momento. Não nego que sou fã de Clint Eastwood, ou de Quentin Tarantino, ou mesmo de Sam Mendes. Mas quando o negócio é thriller, ninguém me atrai mais do que Tony Scott, que descobri com o despretensioso e ignorado Jogo de Espiões (2001), que só pelo elenco deveria chamar mais atenção - Brad Pitt e Robert Redford. Ele tem a mão, o estilo pra fazer a coisa dar certo, sendo que tanto filme com idéia boa por aí faz a merda de escorregar no "demais" e nos clichês, que podem servir pra algum bem. As tomadas, a fotografia, a edição dos filmes dele, a carga sentimental não mais do que necessária... é tudo muito bem feito, e num ritmo que faz com que 146 minutos, por exemplo, passem como uma hora e meia.

E daí Denzel Washington faz a diferença, porque ele é bom. Ele consegue ser durão, e dar um sorriso que conta, porque não é o que se espera. E quando precisa, fecha a cara de novo, sem ficar com ares de "eu sou o mochinho do filme". Se é pra ser "çangue bão", ele sabe ser; mas também sabe ser bem sangue ruim, como John Creasy tem de ser - um sujeito perdido, em busca de algo para voltar a ter esperança, já que a Bíblia por si só não tem dado conta. As duas cenas de tortura (de ambos os policiais) são tão contrastantes com o estudo de história com Pita que não dá pra entender como alguém seria tão frio a ponto de fazer a mesma cara ao brincar com uma criança e ao fazer uma piadinha com "I wish you had more time", antes de deixar o sujeito para trás para explodir, sem nunca dar a esperança do tipo "Você vai se salvar. Tudo vai dar certo, amigão". É um filme, acima de tudo, intenso.

Além dele, tem uma ótima e carismática Dakota Fanning, novinha, que em muito faz lembrar a relação de Mathilda e León no sensacional O Profissional (1994) - por sinal, curioso tanta gente dizer "I'm a professional" para Creasy. Lá, Natalie Portman em seu primeiro filme, e Jean Reno; aqui, Dakota e Denzel. E todos fazem "casais" tão inusitados quanto comoventes e eficientes. Tudo bem que é difícil uma menininha em perigo não mexer com qualquer adulto, mas nesses casos, é até curioso, dado o contexto, ainda mais no caso de Mathilda.


São dois filmes que basicamente poderiam ser clichês puros, e filmes facilmente esquecíveis (bom, eles o são, se for minha mãe assistindo), mas a combinação dos atores com os diretores (Luc Besson para o filme de 1994) é que faz o peso. Acho que é mais ou menos assim em qualquer trabalho: quando o chefe e o empregado se dão bem, a coisa flui e "tudo dá certo" no fim das contas. Cada um tem a liberdade para trabalhar com o que tem de melhor pra oferecer, e o chefe que manja deixa o sujeito explorar isso (como Gary Oldman, especialmente ele, faz em 1994), só aparando as arestas. E espertos são os estúdios e os produtores que conseguem colocar tanta gente boa junto.
1 Response
  1. Anônimo Says:

    Isso é um "não-comentário":
    Confesso que não me sinto muito digna do seu post. Primeiro porque de toda essa lista eu devo ter assistido só uns dois filmes, talvez um deles até a metade (TDAH mode on). Mal conheço o estilo dos diretores, e a reação ao ler o nome de Dakota Fanning foi: "oun, é uma fofa mesmo". Daí que pra lançar um comentáriao ligeiramente vazio ("ligeiramente" pra aliviar pro meu lado) eu não precisaria de muito esforço. É... isso me dá uma certa vergonha.
    Eu não chego perto nem de ser uma "quase cinéfila", quanto mais de comentar algo inteligente sobre roteiro, fotografia, etc. Fato é que eu tenho memória curta, e uma falta de atenção irritante que às vezes me priva de perceber uns detalhes importantes de qualquer história. Tô quase convencida de que sou mesmo uma expectadora de filmes bem comeciais de meia entrada e pipoca na manteiga.
    Mas eu olho esse blog com gosto, e não tô dizendo por causa da bronca. A graça de ler tudo isso aqui é matar um pouco da curiosidade sobre esse universo tão novo pra mim, além de abreviar a minha caminhada na locadora. rs
    Quem sabe um dia, se você escrever algo sobre Philippe Starck, Bauhaus ou Pachelbel, aí sim, eu vou poder fazer um comentário de verdade. =)