"I am the sheep that got lost, Madre."

Minha mãe gosta bastante dos filmes do Denzel Washington, e por um tempo, eu também gostei. Até que... comecei a ver sempre aquele "negão malandro" (sem preconceito, mas é estereotipado), justamente no filme que lhe rendeu um Oscar de melhor ator, Dia de Treinamento (2001). Até hoje não consigo entender o que aquele filme tem de tão bom, por sinal; vai ver, é só mais um dos que eu preciso ver de novo.

De qualquer maneira, do mesmo jeito que ele é sempre o tal "malandrão", Anthony Hopkins é o "velho sábio", como em Um Crime de Mestre (2007), bem overrated, na minha opinião. Acho que o mais irritante é a carinha de "Eu sei de algo que você não sabe" o tempo todo, irrita demais! E eu sei que ele é um baita ator, assim com Denzel Washington - Hurricane - O Furacão (1999) e O Gângster (2007) não me deixam mentir, por exemplo. No começo dos anos 90 ele fez outros bons filmes, mas é só procurar que dá pra achar e eu paro de babar no ovo dele, mesmo porque não é o caso.

O caso é que Chamas da Vingança (2004) foi um filme que inicialmente gerou em mim uma certa... preguiça. Lá ia o macho malandrão passar por um perrengue, ter uma crise de consciência, e matar todo mundo, vivendo seu dia de anti-herói. Mas todo mundo falava que é tão bom, o IMDb dá um respeitável 7.7... e eu finalmente vi o nome de Tony Scott lá.

Dizem que a gente sempre acaba se identificando com a "voz" de um diretor, mas eu acho que é mais do que isso; tem um pra cada momento. Não nego que sou fã de Clint Eastwood, ou de Quentin Tarantino, ou mesmo de Sam Mendes. Mas quando o negócio é thriller, ninguém me atrai mais do que Tony Scott, que descobri com o despretensioso e ignorado Jogo de Espiões (2001), que só pelo elenco deveria chamar mais atenção - Brad Pitt e Robert Redford. Ele tem a mão, o estilo pra fazer a coisa dar certo, sendo que tanto filme com idéia boa por aí faz a merda de escorregar no "demais" e nos clichês, que podem servir pra algum bem. As tomadas, a fotografia, a edição dos filmes dele, a carga sentimental não mais do que necessária... é tudo muito bem feito, e num ritmo que faz com que 146 minutos, por exemplo, passem como uma hora e meia.

E daí Denzel Washington faz a diferença, porque ele é bom. Ele consegue ser durão, e dar um sorriso que conta, porque não é o que se espera. E quando precisa, fecha a cara de novo, sem ficar com ares de "eu sou o mochinho do filme". Se é pra ser "çangue bão", ele sabe ser; mas também sabe ser bem sangue ruim, como John Creasy tem de ser - um sujeito perdido, em busca de algo para voltar a ter esperança, já que a Bíblia por si só não tem dado conta. As duas cenas de tortura (de ambos os policiais) são tão contrastantes com o estudo de história com Pita que não dá pra entender como alguém seria tão frio a ponto de fazer a mesma cara ao brincar com uma criança e ao fazer uma piadinha com "I wish you had more time", antes de deixar o sujeito para trás para explodir, sem nunca dar a esperança do tipo "Você vai se salvar. Tudo vai dar certo, amigão". É um filme, acima de tudo, intenso.

Além dele, tem uma ótima e carismática Dakota Fanning, novinha, que em muito faz lembrar a relação de Mathilda e León no sensacional O Profissional (1994) - por sinal, curioso tanta gente dizer "I'm a professional" para Creasy. Lá, Natalie Portman em seu primeiro filme, e Jean Reno; aqui, Dakota e Denzel. E todos fazem "casais" tão inusitados quanto comoventes e eficientes. Tudo bem que é difícil uma menininha em perigo não mexer com qualquer adulto, mas nesses casos, é até curioso, dado o contexto, ainda mais no caso de Mathilda.


São dois filmes que basicamente poderiam ser clichês puros, e filmes facilmente esquecíveis (bom, eles o são, se for minha mãe assistindo), mas a combinação dos atores com os diretores (Luc Besson para o filme de 1994) é que faz o peso. Acho que é mais ou menos assim em qualquer trabalho: quando o chefe e o empregado se dão bem, a coisa flui e "tudo dá certo" no fim das contas. Cada um tem a liberdade para trabalhar com o que tem de melhor pra oferecer, e o chefe que manja deixa o sujeito explorar isso (como Gary Oldman, especialmente ele, faz em 1994), só aparando as arestas. E espertos são os estúdios e os produtores que conseguem colocar tanta gente boa junto.

"I can't believe this is happening again!"

Alguns anos atrás, quando teve um show do Motörhead em São Paulo, li numa Showbizz, acho, que assistir ao show deles era mais ou menos como assistir a novelas no Vale a Pena Ver de Novo: você sabe exatamente o que esperar, sem surpresas. A mesma coisa eu li uma vez sobre o Black Ice, último disco do AC/DC: o som deles continuava a mesma coisa, sem experimentações ou inovações - e por isso continuava tão bom (quem gosta de Radiohead, por exemplo, sabe exatamente do que eu estou falando).

Se Beber, Não Case foi um smash hit de 2009. Filme relativamente barato - especialmente se comparado à renda, elenco competente sem grande nomes, um humor longe de ser apelativo como American Pie. Um típico caso de clássico instantâneo dos 2000's - ou, como diria Alan, "a 2000's classic". E mesmo a recepção da crítica foi positiva, como prova o 7.9 do IMDb e tantas coisas que li na época. Fui ao cinema e ria feito um retardado, fosse de um japinha pulando pelado de um carro, fosse de uma portada num bebê, fosse de fotos completamente sem noção, que fazem as minhas parecerem do batizado do menino Jesus. O filme é tão divertido que Mike Tyson pediu para participar de uma possível seqüência. 

Daí, você vai ver a segunda parte, Se Beber, Não Case 2. Mesmo título. Mesmo elenco. Mesmo diretor (Todd Phillips, . Mesma premissa. Mesma abertura, com um telefonema quase fatídico do Phil. Dessa vez vai ser diferente? As coisas vão mudar? Alguém não vai sumir? Doug (o branco, não o "black Doug") vai participar? As repostas, só pelo trailer, já estão na mesa: não, nada vai mudar. O filme é um grande "mais do mesmo", só que dessa vez em Bangcoc - a própria cidade, mais uma vez, é grande parte do filme, como Las Vegas foi no primeiro filme. Ninguém tem dúvidas de que vai ter casamento, até porque fica meio claro que é uma repetição da fórmula que deu certo - com vários ingredientes a mais, e que deixam o filme tão bom quanto o primeiro, se não até melhor. Troque até mesmo um tigre por um macaco, um dente por uma tatuagem, mantenha os óculos de sol, e peça para Bryan Callen deixar de ser o Eddie da capela para ser o Samir do strip club - sem avisar a audiência - e pé na tábua. 

E é justamente aí que está o mérito do filme: pra que inventar? É uma seqüência com os mesmos atores, os mesmos personagens, uma situação muito parecida, mas com novas piadas, novos absurdos - e novas fotos no final do filme, ainda melhores que as do primeiro!  Até Mike Tyson está de volta. Não tem invenção, não tem exagero, não tem coisas mirabolantes pra fazer tudo ser maior e melhor, naquela coisa americaníssima de estragar coisas que dão certo como são ao aplicar anabolizantes para bigger is better. Não é o que a gente quer, muitas vezes? Ninguém liga pra um velho amigo procurando alguém novo pra conhecer, ou pega um disco da banca favorita pra ouvir um som novo, cheio de experiências - é o comfort feeling que conta.

É praticamente um Vale a Pena Ver de Novo, mas que realmente vale a pena - especialmente se você tem fresco na memória o primeiro filme, que tem ótimas e sutis ligações para garantir que seja uma seqüência de verdade, e não só mais um na franquia.  

"You were my hero, Dicky."

Falar em filme com boxe é falar em qualquer um dos Rocky, a saga do lutador sofrido que sempre dá a volta por cima criado pelo Stallone - e que valeu um Oscar pro Sly, por incrível que pareça. E qualquer pessoa (ou cara, pelo menos) com mais de 25 anos deve ter ficado todo empolgado se foi ao cinema em 2007 ver Rocky Balboa e depois de tanta enrolação toca o tema dele na hora da luta final contra Mason "The Line" Dixon, uma espécie de Apollo Creed dos manos moderninhos. E foi difícil não conter a emoção, acompanhar a luta, desviar dos socos e vibrar com cada porrada dada, tanto pelo Rocky quanto nele.

Mas o fato é que Rocky Balboa é um personagem de ficção, ainda que bastante verossímil e carismático (menos na porcaria de Rocky V. Puta filme chato!). Há outros boxeadores em outros filmes, eu acho, mas esse ano Mark Wahlberg interpretou o real Micky Ward em O Lutador e Christian Bale deu show como o irmão problemático Dicky Eklund. De novo, história de boxeador com família, o cara sofrido, que vai se dar bem no final, e a platéia vai vibrar com ele. Até aí, ok.

Agora, o incrível é Christian Bale. Ele manda tão bem, mas tão bem que é impossível não simpatizar com ele e torcer por ele até mais do que pelo Rocky contra o Ivan Drago em Rocky IV. Só que ele não luta, a não ser contra policiais que descem o sarrafo nele. Quem luta, agora, é o irmão, Mick, enquanto Dicky, aos trancos e barrancos, do jeito dele, tenta ajudar, por mais que traga problemas ao irmão. Vivendo no saudosismo de uma única luta, de um futuro de "poderia ter sido", sem perceber a realidade (o programa da ESPN gravado durante o filme é a maior prova disso), da espiral downwards em que entrou, e sempre num claro caso de honest mistake, Bale rouba a cena, mais do justificando seu Oscar. Ver Micky se dar bem vai além de torcer por umas boas porradas e pelo lutador, mas você torce porque quem vai realmente ganhar é Dicky, mesmo que fora do ringue. Eu mesmo sempre achei boxe um esporte meio idiota (o que dizer, então, desses UFC da vida?), mas nunca fiquei tão emocionado e vibrante numa luta, pensando que cada soco bem dado por Micky é um soco na vida errada do irmão, que merece melhorar. Afinal de contas, o que dizer de um viciado em crack que consegue te fazer sentir simpatia?

O que é mais legal do filme, me ficou, é finalmente ver gente de verdade dando a volta por cima. Não é um Rocky Balboa, ou qualquer outro personagem que dá a volta por cima depois de uma separação, como alguma mocinha bonitinha. Agora é o cara feio, drogado, magrelo, malandro, que atrapalha - sem querer, e isso é o que ele tem de melhor, porque você sabe que ele não é um filho da puta, mas um cara que fez escolhas erradas na vida e paga por cada uma delas, sem querer passar as shares que o irmão recebe, sem querer. Quando a gente se acostuma a ver quem não presta se dar bem, é emocionante ver alguém que merece dar a volta por cima, e ainda de forma tão convincente quanto Christian Bale faz. A fala antes da luta final é o pico disso, que desarma a defesa ou desconfiança de qualquer um:

Dickie Eklund: Are you like me? Was just good enough to fight Sugar Ray? Never had to win, did I? You gotta do more in there. You gotta win a title. For you, for me, for Lowell. This is your time, all right? You take it. I had my time and I blew it. You don't have to. All right? You fuckin' get out there, and use all the shit that you've been through, all the shit we've gone through over the fuckin' years, and you put it in that ring right now. This is yours. This is fuckin' yours. 

Não são só os meninos que vibram e se emocionam com os socos que "Irish" Micky Ward acerta, ficando com a sensação de que o herói de verdade está de fora dessa luta.

"It could be worse than it looks."


Essa bíblia foi um e-mail escrito após uma tensa conversa sobre um livro/filme, famoso até, que usei para dar aula em 2008. Foi O Menino do Pijama Listrado, e a conversa foi sobre o final. É um post altamente spoiler, mas não consigo deixar de publicar, até porque ontem me falaram do filme. É, pra deixar registrado, uma das combinações mais interessantes entre livro e filme que já vi, porque um consegue complementar o outro naqueles detalhes que faltam, e fazem diferença.

Leia sabendo que eu conto o final do treco logo no primeiro parágrafo, e eu realmente passei aquela noite pensando nisso.

* * *

Ok, então eu fui pra aula ontem pensando no livro/filme, e me toquei que pelo menos eu tava tentando explicar o porquê da morte do Bruno sob um ponto de vista completamente errado, que era uma possível mudança no pai dele. Você ficou insistindo que eu disse que o cara era tão "máquina" que não era pai, e que nem a morte do Bruno mudaria isso - aparentemente "abstraindo" a parte em que eu dizia que a morte, sim, poderia operar algumas mudanças, e que um simples "susto" talvez não pudesse. Vamos deixar isso de lado. Mas, antes, queria só relembrar umas coisas que o pai dele fala no filme mesmo:

Father: I'm a solider. Soldiers fight a war. 
Mother: That's not war! 
Father: It's a vital part of it!

Father: They're not people at all, Bruno.

Em vez de pensar no que ele poderia fazer depois do Bruno, vamos pensar em antes dele. Levando em conta que o Ralf (não me lembro se o filme chega a mostrar o nome dele) é um pai, ele tem responsabilidades para com os filhos. Check. E ele é um nazista, oficial da SS (as "Tropas de Proteção", um grupo de elite que contava com homens racialmente selecionados e disciplinados, responsável pelos campos de concentração e extermínio nos países ocupados), ou seja: sabia muito bem onde estava se enfiando, e considerando tudo, acreditava bem no que estava fazendo - levando os filhos para um campo de extermínio. E foi ele quem arranjou a contratação de um professor, que diz o seguinte:

Bruno: There is such thing as a nice Jew, though, isn't there? 
Herr Liszt: I think, Bruno, if you ever found a nice Jew, you would be the best explorer in the world.

Você ainda falou sobre a parte em que a mãe deles tem a conversa com o pai, e no Study Guide "oficial" do filme que eu usei pra dar minhas aulas sobre o livro tem duas coisas interessantes. Seguem:

"But Bruno’s father, Ralf, has been promoted and the family will be moving from Berlin to the countryside. Bruno’s grandfather clearly disapproves. Bruno is told to think of it as “an adventure.” Dad says serving as a soldier is “about duty not choices.”

"Hints of the Holocaust waft into the seemingly protective confines of the family home. Bruno’s grandmother refuses to visit the house in the country. The strain of living within range of a concentration camp wears upon Bruno’s mother. She is willing to risk charges of disloyalty. Bruno’s mother decides, “This is no place for children.” Father begrudgingly agrees."

A primeira é autoexplicativa, e a segunda tem essa palavrinha mágica que, segundo o thefreedictionary.com, quer dizer "To give or expend with reluctance". Claro, ele concorda, mas insisto: não porque ele achava que os filhos deveriam ser levados para longe por risco de vida, mas pra que fossem criados longe do campo, onde não pudessem ver o que acontecia lá e, por consequência, fossem relativamente indiferentes, até porque estamos falando de um menino de 9 anos que tem uma percepção de mundo bastante limitada e de uma menina de 12 anos que é convertida pela ideologia em que o próprio pai acredita, e não é pouco - afinal de contas, ele se tornou comandante de um campo de extermínio. Será que ele não pensava que matava não judeus, mas pais como ele, mães como sua esposa, filhos e filhas como os seus próprios? "They're not people at all, Bruno". I don't think so. Ele fez sua escolha, e tomou sua parte (ativa) na Guerra e no extermínio dos judeus.

E daí que me veio a necessidade da morte do Bruno, independente do que viria depois: o preço que se paga. Você ontem falou do motto do filme, então vamos pensar nisso. Ok, então o Bruno entra no campo, mas é salvo antes mesmo de entrar na câmara de gás, a família toda toma um susto que faz com que o pai abra os olhos e "pule fora" de tudo. Eu continuo achando isso um tanto quanto impossível, mas vamos por esse viés. Então, ok. Aconteceu isso, ufa. Ele se salvou, "só" o Shmuel morre. Então, o que você vê? Qual o motto? Que, apesar de você acreditar na propaganda nazista, apesar de ser conscientemente responsável pelo extermínio de milhares de pessoas, apesar de você ter aceitado a oferta de levar sua família para um lugar como Auschwitz (que o Bruno chama de "Out-With" no livro, por errar a pronúncia, assim como ele chama o Füher de "Fury"), tem a chance de sair "limpo" da história, com sua família, enquanto as atrocidades no campo de extermínio continuam? A cena seguinte seria o quê? A família indo embora, com cara de alívio, e promessa de um novo começo, onde as coisas dariam certo? E os que ficaram para trás, os judeus? E o próprio Shmuel, você se esqueceu dele? Fatalmente, ele acabaria por morrer, como o pai dele, cuja morte foi autorizada por ninguém menos que o pai do Bruno. Um pai mata o outro, supõe-se que indiretamente mata o filho do outro, mas assim ainda sai "de boa" depois do susto, com sua família, seu filho, são e salvo? Seria esse o motto? Claro, você poderia dizer que ele seria atormentado pelo que fez, um tribunal do pós-Guerra poderia julgá-lo e condená-lo, mas não vamos entrar nessas possibilidades.

O negócio é que, por trás da história de amizade, de uma história vista através dos olhos de um menino de 9 anos, estamos falando do Holocausto, e a História sempre vem cobrar seu preço - um, por exemplo, por que a Alemanha paga até hoje. E o livro passa, sim, uma mensagem, por trás do que se vê na tela. O preço tem que ser pago, e é justamente aí que entra a morte do Bruno - ela é o preço. Independente do que viria depois, se vai mudar ou não. Continuo acreditando que só a morte dele poderia operar a mudança, o susto não seria o bastante, e não seria JUSTO. Até porque, uma coisa que o filme não mostra, os meninos vão pra Auschwitz de trem, e o Bruno vê o trem com os judeus nos outros trilhos, abarrotados de pessoas, os dois saindo juntos. Percebe a simbologia disso? Trens diferentes, confortos diferentes, etnias diferentes, o mesmo destino, o mesmo fim. Desde o começo, e o filme trata de mostrar isso, você tem que os meninos, por mais que sejam diferentes, são muito mais parecidos do que se imagina. A mesma idade, se dão bem, a mesma língua e até mesmo eles concordam que são relativamente parecidos - daí o plano do pijama pro Bruno. O pijama, aliás, é o momento mais alto dessa similaridade, porque é aí que eles se tornam comuns, se confundem, tanto que acabam tendo o mesmo fim.

Vale a pena ver isso de "fim": o pai junta-se ao Partido Nazista, acreditando nos ideais do partido, recebendo Hitler em sua casa, contra a vontade dos pais - lembra-se das cenas das festas na casa deles em Berlim? Ele se torna um oficial da SS pela lealdade e competência, vai para Auschwitz ser comandante, autorizar e gerenciar a morte de algumas milhares de pessoas que, para ele, "are not people at all". E leva sua família, sem se dar conta dos riscos de perigo aos filhos, tão compenetrado no trabalho que não percebe as sumidas do filho, e até aí nem a mãe, ou pelo menos ela é ignorante do paradeiro real do Bruno. Percebe como, de certa forma, he had it coming all along? Outra expressão que me vem em inglês é aquela the punishment should fit the crime, que é válida no Direito também, e qual punição para o pai seria mais apropriada para quem tomou parte na II Guerra do jeito que ele tomou? Se estivéssemos falando de um soldado, um sargento, alguém sob ordens que faz a guarda do campo, que mata um soldado inimigo na batalha, é uma coisa. Mas ele, de mãos limpas, foi o responsável pela morte de algumas milhares de pessoas, de crianças a idosos.

Você entende que, no fim das contas, a única justiça que o livro/filme poderia promover seria tirar do pai o filho, em compensação pelos outros tantos de filhos que ele tirou dos pais, ou dos pais que ele tirou dos filhos? O Bruno era inocente? Sim, mas até aí o Shmuel também era, e o pai dele [Shmuel] também, e ainda assim, morrem porque pessoas como o pai do Bruno acreditavam que eles não eram "people at all", e que ser soldado é "about duty, not choices", e ele fez a sua, que era tomar parte numa "vital part" da Guerra. Se o Bruno não morre, como fica essa justiça? Não fica! A mensagem que acaba sendo passada é a de que, não importa a atrocidade que você cometa, dá pra se arrepender e deixar tudo para trás, sem pagar um preço por isso - se o filme mostrasse alguns dos julgamentos de Nuremberg, e o pai sendo condenado, apesar do arrependimento, atéééééé daria pra engolir, mas não mostra. A gente tem que pensar que o filme vai até ali e acaba. A mensagem dele depende disso, não de suposições posteriores, mesmo que ele mudasse, fosse um pai dedicado, contra o Nazismo e blá blá blá. Seus crimes já foram cometidos, pessoas que morreram não iriam voltar. Achar que tudo ia se resolver e "dar certo" é ver a coisa com mais flores do que ela tem, uma solução meio filme mamão com açúcar, e apesar das crianças, O Menino do Pijama Listrado tá longe disso. Qualquer coisa com o Holocausto está longe disso, aliás.

Você achou justo o Col. Landa do Bastardos Inglórios conseguir se safar daquele jeito? Imagino que não, mas ele ia, e o símbolo que o Brad Pitt faz nele é um tipo de compensação, porque não dava mesmo pra ele sair tão incólume assim. O duro pro pai do Bruno é que o "símbolo" que ele recebeu foi mais duro. Assim como uma cicatriz, a morte do filho nunca ia se apagar. Um susto, com o tempo, poderia ser esquecido.

Enfim, escrevi uma bíblia e, confesso, ontem quase voltei da aula pra escrever isso, porque não saía da minha cabeça, depois que eu acordei da aula de Direito de Empresa. Cheguei atrasado e dormi o que "assisti" de aula. rs

Bom dia pra você!

"Hello Peter, what's happening?"

Quem vê o título (ridículo) de Como Enlouquecer Seu Chefe (1999) e uma foto de Jennifer Aniston na lombada do DVD não pode se deixar enganar: comece a chamar o filme pelo nome original, Office Space, e meta na cabeça que ela é uma coadjuvante que aparece muito pouco. Mas estava em Friends e daí já viu: o rostinho bonito dela vai pra lombada e pra uma foto atrás. Personagens como Samir e Michael Bolton (uma das melhores piadas do filme) são muito mais relevantes do que ela, que faz o papel da garçonete Joanna.

De qualquer maneira, é um filme que qualquer pessoa que trabalhou ou trabalha num escritório precisa ver. Ele é aquele sonho que qualquer um que fica na jaula corporativa por pelo menos 6 horas (se for escraviário) ou 8 horas (se for efetivado, CLT e o caralho a quatro) - ou mais do que isso, se você morar em SP e quiser ganhar um troco a mais e o apreço do seu chefe.

É sobre largar tudo. Relaxar e levar o trabalho numa boa. Dar o cano no chefe porque ficou dormindo. Chegar atrasado, de chinelo (ok, isso eu pulo), comer salgadinho, sair mais cedo. Ir fazer um almoço de 2 horas, xavecar aquela garçonete gatinha, ou sair pra tomar um café no meio da manhã sem ligar pro que vão dizer. Ser promovido por simplesmente constatar os fatos como eles o são e ninguém parece ver, sendo que isso vai te deixar trabalhar ainda menos. E, se der, ainda dar o golpe na empresa e se safar, porque alguém resolveu começar um incêndio - fique longe dos Miltons do seu escritório, ou pelo menos seja legal com aquele cara estranho que meio que fala pra dentro e consigo mesmo.

Mas o filme em si é sensacional, o senso de humor dele. Há cenas "clássicas", copiadas por Deus e o mundo, como quando Stu (de Family Guy) arrebenta um disco de vinil, ou mesmo quando Bill Lumbergh (Yeeaaaah, só esse cara praticamente vale o filme) aparece em outros seriados. Já viu alguém mostrar sua "Oh face"? Se não, aqui está: http://www.youtube.com/watch?v=QzIN3EgBIHg. A música "Damn It Feels Good to be a Gangsta", do Geto Boys, gruda na cabeça, e você fica com vontade de arrebentar aquele seu computador que dá pau, ou máquina de xerox que emperra, ou cafeteira que só quebra - tudo isso no trabalho.

Office Space é do caralho, de verdade - e custa coisa de R$ 12,90 nas Lojas Americanas. Além de um legado de namoro que não deu certo, é dos meus filmes favoritos, e que passou a fazer muito, mas muuuuito mais sentido pra mim a partir de dezembro de 2010, quando eu entrei "pra equipe", e passei a ver que meu lado Peter Gibbons é bem mais fraco do que eu imaginava. Foi só botar o terno e gravata que ele foi domado.

Yeeeahh...

"Estás listo para irte?"

Que ninguém duvide que Javier Bardem é um puta, mas um PUTA ator bom. Mar Adentro (2004) e Onde Os Fracos Não Têm Vez (2007) são duas ótimas provas, com um Vicky Christina Barcelona (2008) com tantas distrações que ele acaba não chamando tanta atenção.

Mas com esse belíssimo e tocante Biutiful (2010), o novo filme de Alejandro González Iñárritu, ele esfrega o chão com os competidores ao Oscar e a qualquer outro prêmio esse ano, Colin Firth e seu gaguejar que me desculpem - até porque foi a primeira indicação de Melhor Ator a alguém que não fala inglês num filme (sem esquecer nossa Fernanda Montenegro em 1998, por Central do Brasil). Assistir à desconstrução de um homem pode ser trágico, deixar mal - especialmente quem tem problemas com família e pai -, mas ele consegue fazer com que tudo que se sente seja... comoção. Não dó, nem pena. Mas comoção, por ver um pai tão dedicado, metido em tanta coisa errada, por um objetivo bom. Um homem que, mesmo com todos os motivos para chutar o balde e, por exemplo, nunca mais olhar pra cara da ex-mulher, o faz, e com toda a dignidade e doçura possíveis. Um homem que consegue se colocar de lado, e ajudar a tudo e a todos, numa condição que lhe dá todo o direito de ser egoísta.

O que se vê é que ele tem uma chance que poucas pessoas têm: de se preparar para partir, sem ter todo o dinheiro que o Jack Nicholson teve. Sem aventuras mirabolantes, que visam tão somente ao bel prazer de quem as faz; muito pelo contrário. Até o último minuto, ele tenta deixar as coisas certas, pra quem puder, ainda que, como qualquer ser humano, faça das suas cagadas, e termine atormentado por uma delas, bem grande e séria, exteriorizada num choro sofrido, honesto, que contagia. Difícil não chorar com ele, ou mesmo por ele, quando observa sua filha com uma cara de quem está, finalmente, em paz, e passa a uma alegria quase infantil, numa das cenas entre pai e filho mais simples e, ao mesmo tempo, significativas.

Quer dizer, esse é o tipo de filme que pode parecer um baita dramalhão, mas não é. Ele simplesmente toca, e ainda assim consegue ter cenas que fazem rir, e outras que dão certo medo - eu nunca lidei bem com pessoas no teto, ou espíritos. E faz você sair do cinema com vontade de abraçar seu pai, mesmo que ele não seja o Bardem, ou pelo menos dar aquela olhadinha pra cima e pensar "Que bom que escrevi aquela carta", porque fica parecendo que, no fim das contas, ela seria tão importante quanto o anel de casada que sua mãe deixa para seus filhos.

"What's wrong with this picture?"

Sabe quando a gente fala sobre tiozão querendo ser moleque de novo, malhando feito um louco e andando com outro tiozão com correntes de prata pra fora da camisa, ou mulher com uns 50 e tantos anos vestindo-se como se ainda tivesse 20 e, pior, indo pra balada com as filhas?

Ver Os Mercenários (2010), o "grande" projeto de Sylvester Stallone (escrito, dirigido e estrelado por ele) ao lado de uma penca de fortões e Jet Li, alguns com mais de 40 ou até 50 anos, é mais ou menos assim - só que consegue ser pior. Acho que qualquer moleque, pelo menos que hoje está na casa de 25-35 anos, sonhou em ver o elenco do filme junto, dando sopapos uns nos outros, dando tiros em tudo que se mexe e explodindo até carrinho de pipoca. O bom de Jet Li (ainda que ele tenha 48 anos, pasme) e Jason Statham é que eles dão um sangue novo ao filme, e Mickey Rourke tem o bom senso de ficar de fora da pancadaria toda, mas o elenco é essencialmente quem todos nós, garotos, gostaríamos de ver num filme, faltando só Jean-Claude Van Damme (hoje com 51 anos) e uma participação muito mais expressiva do ex-governador Arnold Schwarzenegger, ao melhor estilo Comando Para Matar (1985) ou até True Lies (1994), apesar de que a coisa de uma equipe de mercenários cai melhor ao bom e velho Dutch, do fantástico O Predador (1987). Dolph Lundgren é quase uma piada pessoal para mim, mas eu confesso que gosto dele, em toda sua "tosquitude".

Mas ver esses tios todos, bombados, andando de motos, brincando de quem-é-melhor-em-jogar-a-faca, reunindo-se sempre num estúdio de tatuagem com motos, andando em carros que fazem o maior barulhão... putz, é péssimo. Aparece uma "gostosona" lá uma vez, mas fora isso, só um bando de machos, brincando de ser machos. E Stallone com uma baita cara de... tiozão com botox e maquiagem, que faz a sobrancelha, tirando ainda mais toda sua complexidade artística. Fica até difícil de acreditar que ele escreveu Rocky, um Lutador (1976), e que foi indicado ao Oscar por isso, além de por Melhor Ator. Fica parecendo um daqueles caras que se recusa a aceitar a idade, ou pelo menos aceitar com mais dignidade, como Robert Redford o fez. São dois tipos completamente diferentes, I know, mas mesmo assim, o próprio Schwarzenegger é bem mais versátil, nem que seja fazendo comédias toscas que dependem muito da sua falta de jeito para serem legais.

Pior de tudo: as cenas de ação são ruins! O enredo, claro, não faz muita diferença, e as tentativas de algum diálogo mais profundo são patéticas (no melhor estilo de "comover pela dor", porque é dar dó mesmo, de tão ruins). A papagaiada do General Garza, a super interpretação de Giselle Itié, o ex-agente da CIA do mal, até dá pra entender (quer dizer, alguém tinha que explicar exatamente por que a CIA ia querer um dos seus mortos, porque fica parecendo que é porque a droga é deles). Mas mesmo o gran finale parece que se passa num campo de paintball - e dos ruins -, o sangue é mal feito, sujeito perde a cabeça numa facada e logo em seguida aparece no chão com cabeça e tudo, sem sangue, uma arma .12 que faz paredes explodirem... é demais. Até mesmo o carinho paternal/fraternal/pedófilo de Barney Ross (Sly) pela bela, indefesa e com um fator de cura melhor que do Wolverine mocinha Sandra (Itié) é ridículo - só não foi pior por não ter beijo no final, depois da pérola de estar sempre por perto que eu prefiro nem lembrar.

Sério, eu gosto de filmes de ação, mas esse foi demais. Gosto de coisas absurdas, mas bem feitas, e que sabem seu lugar, sem tentativas de profundidade numa história que começa na Bósnia e termina com uma mulher que se joga de uma ponte e coisas sobre salvar a alma. Cabeças podem e devem rolar, paredes serem arrebentadas, um monte de soldados-mosca morrem, tudo vai pelos ares, mas com dignidade, e sem tiozões de botox e com sobrancelhas feitas. Sem a sensação de "tem algo errado aqui", que a arte imitou a vida no pior aspecto possível, ou pelo menos em um dos mais ridículos.

Só falta agora a seqüência sair mesmo (e a tendência de Hollywood é que isso aconteça mesmo), e acrescentarem Steven Seagal ao grande elenco. Vai ser uma bomba, de ruim e de loja de suplementos.

"I didn't know that, tell me more."

Acredito que muita gente, como eu, não entendeu o hype que se criou em torno de A Rede Social (2010), o filme que leva às levas o livro de Ben Mezrich sobre a criação do Facebook. Afinal de contas, foram 3 Oscar e mais 5 indicações em branco, sem contar os Globos de Ouro e dois prêmios da BAFTA (um equivalente inglês ao americaníssimo Oscar). Que o roteiro é incrivelmente bem adaptado, só lendo o livro pra saber, mas prestando atenção a certos detalhes.

O grande lance do filme é, além do roteiro e as atuações pra lá de convincentes (quem lê o livro apenas fica achando que Mark Zuckerberg é um cara meio retardado e mudo, mas Jesse Eisenberg mostra que não), a edição dele. É apenas mais um daqueles prêmios técnicos pra que ninguém presta real atenção enquanto assiste à entrega dos prêmios, aproveita pra ir fazer xixi ou pegar chocolate, mas é fundamental. Por quê? Simples: você não percebe certas coisas.

O livro é recheado de informações sobre pessoas, especialmente. Tem, claro, toda a parte de programação, e eu fui passando batido, e mesmo no filme fiz cara de "Ah, claro, é isso" quando eles falam sobre aspectos técnicos de programação. Só que conta muita coisa sobre Sean Parker (o cada vez melhor Justin Timberlake - nas telas), por exemplo, ou sobre como as coisas desenrolaram com todos os personagens... daí, você pega um cara que mandou bem no roteiro, e uma edição MUITO bem feita, e... de repente, todas as informações, TODAS mesmo, estão no filme, e em nenhum momento você pára e fica com aquela sensação de "De onde saiu essa informação?", tão incômoda em alguns filmes. Palmas para Aaron Sorkin (roteiro) e Kirk Baxter e Angus Wall (edição), que nunca vi mais gordos, mas que mandaram muito bem!

Pena, na real, que nem tudo é assim, e não dá pra pedir pra eles fazerem isso com a nossa vida. É triste, não?, quando as coisas que devem ser naturais entre pessoas não são assim porque toda hora é preciso parar, e explicar as coisas, mostrar informações, mastigar, explicar. E daí, bye bye "fluência", leveza. As coisas deixam de fluir naturalmente, e parece que somos lembrados do problema em si, em vez de prestar mais atenção ao contexto maior, ao filme em si. É mais ou menos como contar uma piada, tendo que parar pra explicar tudo. Perde a graça, quando chega no final, já era.

O curioso foi que percebi recentemente, qual era o grande mérito do filme: essa leveza com a quantidade de explicações e informações nele. E me lembrei na hora de quando a Isabelle reclamava do meu contar histórias, repleto de pausas por detalhes e divagações. Elas são legais, mas têm que ser curtas, porque no fim das contas, se perde o interesse, e fica cansativo ficar parando toda hora. E foi vendo a história de Mark e Eduardo Saverin que eu me toquei disso, só que com a experiência que eu não via estar vivendo, e sem meu bilhão de dólares.

"I want to be perfect."

Tem filmes que são feitos para certos atores e atrizes, eles são perfeitos para os papéis e para os enredos. É o caso de Penelope Cruz em Volver (2006),  ou mesmo George Clooney em Amor Sem Escalas (2009), entre outros tantos.

Ah, mas ver Natalie Portman tendo o filme dela, o belíssimo Cisne Negro (2010), se masturbando com tanta intensidade... eu passei mal no cinema. Ela que é tão delicada, exatamente como pede o papel de Nina e a white swan que ela graciosamente dança, fazer aquilo com aquela ferocidade, dando os primeiros passos ao black swan que ela majestosamente incorpora, na cena da metamorfose que é sensacional... Não se atinge a perfeição sendo sempre a Mrs. Clean, boazinha. Abaixo com essa coisa de persona (complicada e) perfeitinha que todo mundo espera, ou pelo menos que a gente tem que manter porque "é certo", e acaba sendo conveniente pra todo mundo!

E depois tem gente que não entende por que eu sou apaixonado por ela.

“Não é impossível ser feliz depois que a gente cresce.”

Não vou voltar à minha ladainha de sempre sobre cinema brasileiro. Gosto e ponto. E já tinha falado de um em especial, que eu queria demais ver, As Melhores Coisas do Mundo (2010). Tanto enrolei, com o DVD em mãos, que fui assistir justamente na cidade onde cresci, onde tive meus 15 anos e... bem, tive uma adolescência aparentemente menos complicada e definitivamente menos conturbada do que a de (Her)Mano, o protagonista do filme, interpretado pelo mais do que convincente Francisco Miguez. Ele não fica com cara de idiota e repetindo mecanicamente as frases, thumbs up!

Ao contrário do que parece, não é um filme só pra moleque, pra ver no Cinema em Casa ou algo do tipo: é um filmaço, divertidíssimo e nostálgico - até a sensação de frio na barriga de chegar em uma menina numa festinha da escola, sóbrio. Meu, CHEGAR em uma menina, nem lembro quando foi a última vez que fiz isso! E é um filme que provoca, especialmente adolescentes, porque é incrivelmente próximo da realidade, o que até deprime um pouco e me faz ter second thoughts em ter filhos, mas isso tem um certo endereço em Higienópolis que faz por mim três vezes por semana. Mas a parte da proximidade da realidade é no mínimo curiosa, pra quem é da idade, ao assistir, porque... bem, porque as coisas são exatamente como o filme mostra, só com menos Manos de vez em quando, e com cada vez mais Fiuks (não, eu não estou xingando o filho do Fábio Jr., até porque ele é perfeito para o papel do Pedro, irmão meio emo do Mano).

Mérito da competente diretora Laís Bodanzky e de um elenco muito bem escolhido, só com moleques mesmo, gente que está onde o filme mostra que está, mas na vida real, e que acabou participando na construção do clima, das personagens. Isso faz toda a diferença, quando trabalhando com adolescentes: deixar, sei lá, a naturalidade rolar solta, e eles, tipo, dão conta do recado, né. É até engraçado ver o making of, mas realmente vale a pena, a molecada conquista um pouco mais.

Agora, o que é realmente interessante é ver o filme já um pouco mais velho. A frase inicial de Mano, o título do post, é certeira, claro, mas vendo o filme é impossível não soltar um "Ah, que ridículo isso" pra alguns dos problemas da molecada, ou mesmo xingar o moleque que fala mal de um professor (o ótimo Caio Blat).  A gente sempre acha que nossos problemas são enormes, e que ser feliz é difícil pacas, mas depois olha pra trás e pensa aquele "Afe, eu reclamava DISSO?", mas é difícil mensurar o real tamanho dos abacaxis e pepinos quando eles estão numa mão e a faca na outra. Como ele mesmo diz, quando mais velho, ser feliz só é mais complicado. Foi exatamente como eu me senti outro dia no colégio, com uma pitada de irritação, ouvindo uma aluna de 14 aos prantos por causa do namoradinho (ou namoradão, pelo tamanho da criança) dela. E aposto que vou me sentir assim de novo lá pelos 50 e tantos, quando meu filho me chamar de "mano" e falar que alguma coisa "miou", por SMS ou pelo Facebook.

Com o filme é mais leve, porque dá pra pausar, e o que me bateu foi saudade, dos meus problemas aos 17, dos meus amigos que tanto me fazem falta, apesar de alguns de nós estarmos até na mesma cidade... cacete, me deu saudade do colégio, mesmo porque o filme tem uma cena rodada no Santa Marcelina, onde estudei entre 1992 e 1996! Em suma, o filme é gostoso demais, e muito bem feito, sem ser babaca - como alguns adolescentes/personagens o são, que se confundem, pra mim - e tem uma das trilhas sonoras mais interessantes que já vi num filme nacional, ou em qualquer filme. 

E, curiosamente, eu falei pra tal aluna que tava chorando ver o filme, mesmo sem eu ter visto. Na lata! Pra ela e pra mim, até porque, como diz Mário Quintana, "triste de quem não conserva nenhum vestígio de infância", e esse filme é ótimo para mexer com os vários que ainda se pode - e deve! - ter.

"Well, there it is."

Sabe quando você vai ver um superclássico, aquele filme de que todo mundo fala, dizem que é sensacional, que é bom, os críticos e até o Oscar concordam... e daí acaba, você entende o porquê de tanta aclamação, mas ao mesmo tempo fica com uma sensação de "... é isso?" na cabeça, mas em segredo, porque não pode dizer isso na frente de ninguém? Tipo admitir que não assiste ao BBB e ser um alien numa sala?


Pois é, Amadeus (1984), o grande vencedor de 8 prêmios da Academia em 1985... pra mim foi você, mais ou menos. Acho que preciso ver de novo, e baixar minhas expectativas, tentar ver coisas onde eu não vi. Mais ou menos como a gente faz com tudo na vida, especialmente pessoas. É que nem sair com aquela pessoa que você ficou na balada e nem teve como conversar direito, ou na hora foi legal, seus amigos empurraram os dois, e daí quando foi ser o papo, aqueeeeeeeeeela decepção. Mas ela é bonita, ele é gatinho, tem sorriso, é legal, mas fica nisso. Você pensa "Pelo menos foi divertido, né?" e sorri pra pessoa, diz pra combinarem de sair de novo, mas vai ser naquela quarta-feira chuvosa e sem o Van Damme na Sessão da Tarde ou o Corinthians em campo pelo Paulistão. Uma hora ou outra você se lembra, pensa que tem que rolar de novo pra ver se dá liga, mas dá uma preguiça, aparece outra pessoa mais interessante, e assim caminha a humanidade.

O pior é só anos mais tarde conseguir perceber a genialidade da obra e da pessoa, geralmente esta com outro(a), e a gente fica com cara de bolinho. Pelo menos o filme não casa com outra pessoa, e a gente só faz papel de bobo dizendo "É, agora só que eu entendi...", arrependido de ter dito que não achou lá grandes coisas, ou que Led Zeppelin nem é tão bom assim. Certeza que o Mozart tem algo a mais que sua risada escandalosa e mulher com os peitos quase pulando pra fora o filme todo, e eu vou entender por que F. Murray Abraham é tão brilhante no papel de Antonio Salieri, um dos loucos mais cativantes que já vi.

Mas, até lá, acho que alguns ainda vão passar na frente e a fila vai andar. Quem sabe numa quinta-feira sem meu filme favorito da Sessão da Tarde, Os Aventureiros do Bairro Proibido?