"I think positive emotion trumps negative emotion every time."

Quando eu vejo Robert Pattison, o Edward, me vem à cabeça que ele é um cara que fica fazendo cara de dor de barriga o filme toda, por causa, bem, das caras de dor de barriga que ele fica fazendo como o vampiro mais pop do mundo hoje em dia. E me pego pensando se ele vai ser sempre assim, se o cara vai ser pra sempre o Edward ou se vai alavancar e mostrar ao mundo pra que veio, como outro ator que já entrou de vez na minha listinha de favoritos: Leonardo DiCaprio. Sim, ele mesmo.

A primeira coisa que tive o "prazer" de ver com esse rostinho bonito em cena foi, infelizmente, Titanic (1997), e por duas vezes no cinema e nunca mais. Claro, na época, eu achei o máximo, gostei do filme, e até cheguei a discutir a entrada dele ou não na corrida para o Oscar e achei que a Kate Winslet não tinha graça (isso só viria a mudar anos depois, e hoje sou até meio apaixonadinho por ela). Veio O Homem da Máscara de Ferro (1998) e A Praia (2000), e de repente eu não conseguia mais olhar pra cara dele, que tinha virado um rostinho bonito que não fazia nada que prestava e ainda tinha que aturar a cara dele em bancas de jornais, capas de fichário e atrás da porta do guarda-roupa das irmãs dos amigos. Peguei birrinha, pronto. E fiquei muito tempo sem assistir a nada que fosse dele.

Comecei a trabalhar numa escola depois da Disney e tinha uma bendita aula de vídeo em cima de Prenda-me Se For Capaz (2002), que eu sempre ignorei, apesar de todas as críticas, recomendações e, bem, Tom Hanks. Daí veio Os Infiltrados (2006), novos elogios e prêmios, e um dia resolvi assistir a Diamante de Sangue (2006). Lembro muito bem de, no fim do filme, virar pra Bell e dizer "E não é que o Leonardo DiCaprio tá virando ator?", surpreso pela atuação dele, pelo bom filme que ele tinha feito. Mal sabia eu que ia vê-lo em cena com Jack Nicholson dali mais um tempo e soltar um "É, o cara virou ator mesmo".

E sabe quando, daí, parece que tudo começa a acontecer? Apesar de dar a aula, nunca tinha visto Prenda-me. Peguei empretado na escola e vi um dos filmes mais bacanas sobre malandros até hoje, tanto que tenho o DVD. Resolvi ir lá atrás, e vi Diário de um Adolescente (1995), seu primeiro grande filme, e fiquei de cara com ele, tão novo, tão bom. Ainda outro dia, veio Rede de Mentiras (2008), mais um bom filme que os americanos fazem para exorcisar os próprios demônios da Guerra ao Terror, cujo ápice esteve no Oscar esse ano. Com a farra da Blockbuster, o ótimo Foi Apenas Um Sonho (2008) que, por sinal, tem algumas das melhores cenas cortadas, só disponíveis dos extras, e alguns meses atrás o também ótimo e scorcesiano Ilha do Medo (2009), numa sessão de cinema com ameaças graves às meninas lésbicas de 14 anos do meu lado.

Não é que ele sempre foi bom? Fez uns filmes toscos, é verdade, mas quem não fez na carreira? É que nem mulher... todo cara que desfila por aí com mulher bonita já deu sua barangada, fato. E ele poderia ter virado um Ben Affleck, que se deu bem com Gênio Indomável (1997), mas que se mostrava um canastrão, continuou canastrão e, fazer o quê?, vai ser canastrão pra sempre, com o rostinho bonito também. Nem todos os atores que tem isso do rostinho conseguem, infelizemente, fazer o que um Brad Pitt ou um - agora admito, com prazer - DiCaprio conseguiram. E mais do que atuarem bem, eles sabem escolher muito bem os papéis, os filmes, o que fazer e o que não fazer. E no caso do Leo, como diz uma amiga, sem perder a carinha de menino (ainda acho estranho vê-lo fumando, por exemplo).

Daí domingo eu fui ver A Origem (2010), o tal #3 do IMDb. Sensacional, fantástico, ótimo! Mesmo! E, além de uma direção bem conduzida, de bom elenco, efeitos especiais fantásticos (a briga sem gravidade no corredor do hotel faria qualquer Neo vs. Agente Smith ficar com invejinha), tem um Leonardo DiCaprio fazendo um Cobb inspiradíssimo, no limite, contribuindo em cada cena pro final "Ahn?" que deixa a gente na dúvida. Quando o cara consegue isso, é porque ele é bom, e não porque tem um rostinho bonito e de bom moço. Ele me faz ir atrás do filme, e já pensei na listinha que preciso dar cabo agora: As Filhas de Marvin (1996), O Aviador (2004) e Romeo + Julieta (1996), enquanto não sai mais nada novo do Kevin Spacey ou da Maryl Streep.

"This city is afraid of me. I've seen its true face."

Dizer que "ah, o livro é bem melhor, né?" parece ser uma máxima de cinema, seja quem for, falando de qualquer que seja o filme. Exemplos não faltam, daria pra fazer uma lista de 250 só com as adaptações mais fracassadas ou toscas mesmo. Tudo bem, tem umas que chegam a dar raiva mesmo, especialmente quando você gosta do livro, mas a gente não pára pra pensar que trabalho ingrato é esse, pior que ficar descascando pinhão com dedo e sem faca. 

Mas de vez em quando temos gratas surpresas, ou até mais gratas, quando o filme consegue ser melhor do que o próprio livro. Até tenho um exemplo pessoal para isso, que seria O Jardineiro Fiel (2005), do nosso Fernando Meirelles e com os ótimos Ralph Fiennes e Rachel Weisz, baseado na obra de John le Carré. O livro é bom, claro, super interessante, ritmo bom, apesar do tamanho, como os bons livros de espionagem e afins do le Carré, mas o filme... é fantástico. A históra é muito fiel, muito mesmo, mas eu diria que há duas coisas que fazem toda a diferença. A montagem do filme, começando pelo carro, que volta e meia reaparece, cada vez mais completo, e a cena do teatro de bonecos discutindo doenças na África. A outra seria Filhos da Esperança (2006), com Clive Owen. Sempre fui fã de ficção, e o filme é super interessante, mas uma colega de trabalho disse que o livro chega a ser chatíssimo. Ah, sim, e acabei de pensar em Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009), porque o livro me irritou horrores, mas do filme eu gostei, até porque as coisas ali são colocadas por um personagem, e você não sente aquele tom de "eu tenho a razão" do mané do livro.

E ao invés de fazer um contraponto dizendo que só tem porcaria, e as boas adaptações são a exceção, hoje eu vi como é complicado fazer isso, mais uma vez. Nos filmes, convenhamos que os diretores têm lá uma certa limitação de 2 horas para get the job done, até porque mesmo gente que gosta de cinema torce o nariz quando vê coisas do tipo 162 minutos - e não completamente sem razão, às vezes. Esse é o tempo marcado em Watchmen (2009), que eu terminei de ler hoje e vi hoje mesmo. Só que aqui não se trata de um livro, mas sim de uma graphic novel, ou seja, um livro em quadrinhos. Não, não é só um gibi que nem da Turma da Mônica, mas praticamente um livro mesmo, um romance, e incrível, bom pra caralho mesmo. E denso, complexo. E o filme é muito bom também, mas chega a ser injusta a comparação... convenhamos, são 12 edições para a revista, mais de 350 páginas, e como passar tudo pra tela? Fica meio óbvio que o filme não vai ser tão bom quanto, mas isso não faz dele um filme ruim, muito pelo contrário. Ele tem um grande mérito de ter tentado e ter conseguido tão bem, dentro do possível. É uma coisa comum, aliás, nesse tipo de revista, a exemplo de Sin City (2005), que é bom demais, e é fidelíssimo aos quadrinhos, mesmo em termos de imagem.

Claro, existem certas técnicas e clichês de cinema que atrapalham, como certas cenas... o Dr. Manhattan nunca entrega de bandeja a verdade sobre o pai de Laurie, como ele faz no filme, e algumas cenas são meio mastigadas pro povo, e poderiam ser bem mais fiéis à revista, mas eu só sei disso porque li. Quem nunca leu, nem vai saber, e vai gostar do filme, a menos que seja um típico espectador do água com açúcar de sempre que tanto me irrita se não for em doses homeopáticas. O Caçador de Pipas (2007) caiu tanto nesses clichês que ficou... bem, uma bomba. Horrível, ruim mesmo, e o livro tão bom. Tiraram tudo que tinha de tão forte no livro pra fazer ele ficar digerível e com um happy ending que estraga tudo, tudo mesmo. Já 1984 (1984 - ahá!) é bastante fiel, e talvez peque por isso mesmo, e por ter um narrador tão forte.

Essa parte do narrador, por sinal, é um dos grandes desafios. Como transpor uma voz que te conta tanto num livro, tão natural lá, para uma linguagem visual como a do cinema? Todo mundo que critica deveria se perguntar "Eu consigo assistir a um filme com voz narrativa?". A resposta é fácil: não. Uma boa tentativa disso foi, por exemplo, Blade Runner (1982), cujas versões finais sempre tiraram a voz do Harrison Ford narrando a história. Foco narrativo é importante por demais, e nesse ponto é que Watchmen apela, porque são diversos focos (como o jornaleiro, por exemplo, ou todas as reflexões do Dr. Manhattan, ou mesmo o pequeno jornal que recebe e ignora o diário de Rorschach, que o filme deixa como um "Oh, será?" idiota no final).

E, pra não ficar nas revistas em quadrinhos, nada mais justo que falar de Ensaio Sobre a Cegueira (2008), também do Meirelles, baseado no fantástico e fodástico livro do falecido José Saramago, portuga. O filme é bom, bem realizado (os móveis que parecem à medida que se tromba neles foi um recurso interessantíssimo, mas aposto que pouca gente percebeu), mas o livro... ah, o livro. Eu esperava um filme com cheiro, angustiante, medonho, não sei. Me ficou que, mesmo com todo o esforço, as boas atuações, o Saramago chorando ao final da exibição pra ele, mesmo com tudo isso, o filme ficou devendo, e não tinha como não ser assim. De novo, isso faz do filme um filme ruim? Não, não faz. Vale a pena assistir? Muito, sempre, até porque é um prazer ver na tela o que você só conseguia imaginar.

O caminho contrário, que não é o meu favorito, de ver o filme e depois ler, vale a pena também, como foi Eu Sou a Lenda (2007), que também é bem mais legal do que o conto que dá nome ao livro, especialmente pela Manhattan criada na telona. Mas daí porque ficou mais filme de ação com ficção, a montagem dos flashbacks bem realizada e oportuna (100% linearidade de cu é rola) e tem o carisma do Will Smith, além de que o conto é meio antigo, e certas coisas tinham que ser "corrigidas", e o fizeram na mosca. Seria muito bom se as pessoas fossem ler os livros depois de ver os filmes, e quem sabe eventualmente começariam a ler pra ver o filme, mas nem isso.

Alguns autores, por outro lado, sempre fazem livros mastigadinhos para serem transformados em filmes, como é o caso de Dan "Da Vinci" Brown, ou mesmo dos livros do Nicholas Sparks (The Notebook, A Walk to Remember e tantos outros livros que vêm - ou deveriam - acompanhados de caixas de lenços), mas daí não tem nem graça, é mais fácil ler o roteiro, porque mal tem o que comparar, e desde 1995 eu gosto desses tais estudos comparativos, por causa do Kevin Costner e do seu Robin Hood (1991), nas minhas aulas de português. O primeiro VHS que aluguei na vida, com meus pais, e foi tão legal, apesar das discrepâncias gritantes do livro com o filme, muito mais bonitinho e enlatado, embalado por Bryan Adams. 

Hoje, eu faço os tais estudos por minha conta, e fico até chato falando pra quem não leu de todas as diferenças, mas ainda vou criar coragem e fazer isso com O Senhor dos Anéis, a saga, e depois matar alguém de tédio, porque haja saco pra tanta página e tantas horas e todos os comentários que isso vai me render. Alguém me aguarde, com muito café.