“Não é impossível ser feliz depois que a gente cresce.”

Não vou voltar à minha ladainha de sempre sobre cinema brasileiro. Gosto e ponto. E já tinha falado de um em especial, que eu queria demais ver, As Melhores Coisas do Mundo (2010). Tanto enrolei, com o DVD em mãos, que fui assistir justamente na cidade onde cresci, onde tive meus 15 anos e... bem, tive uma adolescência aparentemente menos complicada e definitivamente menos conturbada do que a de (Her)Mano, o protagonista do filme, interpretado pelo mais do que convincente Francisco Miguez. Ele não fica com cara de idiota e repetindo mecanicamente as frases, thumbs up!

Ao contrário do que parece, não é um filme só pra moleque, pra ver no Cinema em Casa ou algo do tipo: é um filmaço, divertidíssimo e nostálgico - até a sensação de frio na barriga de chegar em uma menina numa festinha da escola, sóbrio. Meu, CHEGAR em uma menina, nem lembro quando foi a última vez que fiz isso! E é um filme que provoca, especialmente adolescentes, porque é incrivelmente próximo da realidade, o que até deprime um pouco e me faz ter second thoughts em ter filhos, mas isso tem um certo endereço em Higienópolis que faz por mim três vezes por semana. Mas a parte da proximidade da realidade é no mínimo curiosa, pra quem é da idade, ao assistir, porque... bem, porque as coisas são exatamente como o filme mostra, só com menos Manos de vez em quando, e com cada vez mais Fiuks (não, eu não estou xingando o filho do Fábio Jr., até porque ele é perfeito para o papel do Pedro, irmão meio emo do Mano).

Mérito da competente diretora Laís Bodanzky e de um elenco muito bem escolhido, só com moleques mesmo, gente que está onde o filme mostra que está, mas na vida real, e que acabou participando na construção do clima, das personagens. Isso faz toda a diferença, quando trabalhando com adolescentes: deixar, sei lá, a naturalidade rolar solta, e eles, tipo, dão conta do recado, né. É até engraçado ver o making of, mas realmente vale a pena, a molecada conquista um pouco mais.

Agora, o que é realmente interessante é ver o filme já um pouco mais velho. A frase inicial de Mano, o título do post, é certeira, claro, mas vendo o filme é impossível não soltar um "Ah, que ridículo isso" pra alguns dos problemas da molecada, ou mesmo xingar o moleque que fala mal de um professor (o ótimo Caio Blat).  A gente sempre acha que nossos problemas são enormes, e que ser feliz é difícil pacas, mas depois olha pra trás e pensa aquele "Afe, eu reclamava DISSO?", mas é difícil mensurar o real tamanho dos abacaxis e pepinos quando eles estão numa mão e a faca na outra. Como ele mesmo diz, quando mais velho, ser feliz só é mais complicado. Foi exatamente como eu me senti outro dia no colégio, com uma pitada de irritação, ouvindo uma aluna de 14 aos prantos por causa do namoradinho (ou namoradão, pelo tamanho da criança) dela. E aposto que vou me sentir assim de novo lá pelos 50 e tantos, quando meu filho me chamar de "mano" e falar que alguma coisa "miou", por SMS ou pelo Facebook.

Com o filme é mais leve, porque dá pra pausar, e o que me bateu foi saudade, dos meus problemas aos 17, dos meus amigos que tanto me fazem falta, apesar de alguns de nós estarmos até na mesma cidade... cacete, me deu saudade do colégio, mesmo porque o filme tem uma cena rodada no Santa Marcelina, onde estudei entre 1992 e 1996! Em suma, o filme é gostoso demais, e muito bem feito, sem ser babaca - como alguns adolescentes/personagens o são, que se confundem, pra mim - e tem uma das trilhas sonoras mais interessantes que já vi num filme nacional, ou em qualquer filme. 

E, curiosamente, eu falei pra tal aluna que tava chorando ver o filme, mesmo sem eu ter visto. Na lata! Pra ela e pra mim, até porque, como diz Mário Quintana, "triste de quem não conserva nenhum vestígio de infância", e esse filme é ótimo para mexer com os vários que ainda se pode - e deve! - ter.

"Well, there it is."

Sabe quando você vai ver um superclássico, aquele filme de que todo mundo fala, dizem que é sensacional, que é bom, os críticos e até o Oscar concordam... e daí acaba, você entende o porquê de tanta aclamação, mas ao mesmo tempo fica com uma sensação de "... é isso?" na cabeça, mas em segredo, porque não pode dizer isso na frente de ninguém? Tipo admitir que não assiste ao BBB e ser um alien numa sala?


Pois é, Amadeus (1984), o grande vencedor de 8 prêmios da Academia em 1985... pra mim foi você, mais ou menos. Acho que preciso ver de novo, e baixar minhas expectativas, tentar ver coisas onde eu não vi. Mais ou menos como a gente faz com tudo na vida, especialmente pessoas. É que nem sair com aquela pessoa que você ficou na balada e nem teve como conversar direito, ou na hora foi legal, seus amigos empurraram os dois, e daí quando foi ser o papo, aqueeeeeeeeeela decepção. Mas ela é bonita, ele é gatinho, tem sorriso, é legal, mas fica nisso. Você pensa "Pelo menos foi divertido, né?" e sorri pra pessoa, diz pra combinarem de sair de novo, mas vai ser naquela quarta-feira chuvosa e sem o Van Damme na Sessão da Tarde ou o Corinthians em campo pelo Paulistão. Uma hora ou outra você se lembra, pensa que tem que rolar de novo pra ver se dá liga, mas dá uma preguiça, aparece outra pessoa mais interessante, e assim caminha a humanidade.

O pior é só anos mais tarde conseguir perceber a genialidade da obra e da pessoa, geralmente esta com outro(a), e a gente fica com cara de bolinho. Pelo menos o filme não casa com outra pessoa, e a gente só faz papel de bobo dizendo "É, agora só que eu entendi...", arrependido de ter dito que não achou lá grandes coisas, ou que Led Zeppelin nem é tão bom assim. Certeza que o Mozart tem algo a mais que sua risada escandalosa e mulher com os peitos quase pulando pra fora o filme todo, e eu vou entender por que F. Murray Abraham é tão brilhante no papel de Antonio Salieri, um dos loucos mais cativantes que já vi.

Mas, até lá, acho que alguns ainda vão passar na frente e a fila vai andar. Quem sabe numa quinta-feira sem meu filme favorito da Sessão da Tarde, Os Aventureiros do Bairro Proibido?