"It's the answer to your nightmares."

Foram preciso três tentativas pra conseguir ver Alma Perdida (Cold Souls), um filme que aparentemente passou na Mostra de Cinema do ano passado, e eu não fui ver, como de praxe. Eu apaguei em duas delas, e hoje terminei - e não, o filme não é nada chato, eu que tava morto de sono nas duas vezes mesmo e fui ver na cama.

Paul Giamatti é um baita ator, (in)felizmente meio esquecido por grande filmes (a não ser pelo péssimo Mandando Bala, mas quem não faria um filme ruim pra estar perto da Monica Bellucci?), e a idéia do filme é bastante interessante, me fazendo pensar de cara que era uma coisa mais séria, meio... Charlie Kaufman. Virou meio que ligar batido eu falar de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, pelo tanto que eu gosto do filme, mas é meio impossível não ver um quê de proximidade ali, a começar pela idéia de extrair aquilo que está dentro de você e te traz dor. Aqui, sua própria alma; lá, suas lembranas, sua memória. Mas tem também uma coisa meio cômica na situação como um todo, o tráfico de almas, os aluguéis e as próprias falas.

Imagina alguém chegar pra você e perguntar "O que diabos a minha alma está fazendo na Rússia?", na maior calma, ou mesmo dizer "Eu estou desalmado, mas serão só por duas semanas". Acho que consegue ser mais inacreditável do que o próprio processo que o filme mostra, a extração da alma. Ou até do que ir apagando memórias, uma por uma, e rever uma casa na praia sendo despedaçada, pouco a pouco. Só que o que Brilho Eterno tem de interessante e triste, Alma Perdida tem de interessante e cômico, talvez - e olha aí uma grande ironia - porque a gente fique mais emocionado ao ver um amor se acabar do que ao ver a pessoa se despedaçar por dentro, perder a sua essência. Se é amor, é bonito, seja de quem for (especialmente o dos outros, aliás); se é do interno dos outros, problema deles.

Agora, é curioso como esses temas são tão fascinantes, não? E como deve ter gente que saiu do cinema (ou da cama, como eu) pensando em como seria bom se alguma coisa assim existisse, tanto de um filme quanto do outro. Se a gente conseguisse lidar com traumas apagando-os e levando a vida como se não tivessem existido, ou tirando a alma que nos pesa, pra depois pegar de volta, ou nem pegar. Soluções deus ex machina, que mostram como a gente não sabe lidar com nossos problemas mais complexos, e ainda assim tão interessantes. Me fica uma mini-sensação de que a gente tinha mais é que acabar um filme desses e começar a pensar em como podemos realmente lidar com essas coisas, mas é irresistível ficar pensando "Nossa, imagina se eu pudesse fazer isso?" e fantasiar quem a gente ia apagar, ou que alma ia querer no lugar da nossa, mais leve, mais fácil.

Eu me incluo, pelo menos no lugar do Jim Carrey.