"And the Oscar goes to..."

Sempre que sai a lista do Oscar, eu penso em duas coisas, de cara: lá vem a Globo chamar a cerimônia da Academia de Cinema dos Estados Unidos de "a maior festa do cinema mundial" (e Cannes, vai bem? Berlim, onde?) e é bom ficar com um pé atrás. Depois que Titanic levou uma estatueta por melhor filme em 1997 (sem contar as outras 10, dentre as quais diretor para James Cameron, fotografia, efeitos especiais e outras coisas técnicas), além da horrível "My Heart Will Go On", que incrivelmente ganhou de melhor canção original na voz de - ugh! - Celine Dion, eu fico assim. E daí, esse ano, a Academia resolve que 5 filmes não eram o bastante... vamos indicar 10 para melhor filme, e assim prolongar uma cerimônia que já é bem longa - e chata.

Mas dessa vez eu resolvi fazer uma coisa, e até agora tem me trazido algumas surpresas, agradáveis na maioria: assistir aos tais 10 filmes. Ainda me falta metade. E é curioso como tem coisa que simplesmente parece errada lá, e até corrobora minha idéia de que o Oscar não é a maior festa. Up, uma animação, está indicado a melhor filme, o que quase garante que vai ganhar como melhor animação, e temos algo como O Segredo dos Seus Olhos, um argentino muito, muito bom, que vai concorrer como melhor filme estrangeiro. Pode ser coisa minha, mas não dá pra entender como uma animação que é boa, pero no mucho, está lá e outras coisas tão boas ficaram de fora. Vai ter muito brasileiro torcendo contra por ser um filme portenho, numa tremenda ignorância que já passou das barreiras do futebol ao ponto de ter gente dizendo que não gosta de argentino sem nem saber o porquê, sendo que, pra exemplo, é só pegar O Filho da Noiva, filmão argentino de 2003, se não me engana, cujo diretor e ator principal (o ótimo Ricardo Darín) estão nesse filme novo. Até Hollywood sabe disso, ou não teria feito um remake de Nove Rainhas naquele simpático Os Vigaristas, com Nicolas Cage. Pois é, foi baseado num argentino.

Depois de, meio que sem querer, ver o tal argentino, e por querer ver A Fita Branca, filme estranho mas bem bom do alemão Michael Haneke (mas que é preciso entender o contexto histórico, e onde o filme vai "dar" pra se ver o porquê dele, já que parece não ter fim), resolvi que o negócio agora é ver (também) a lista dos filmes estrangeiros, na medida do possível. Digo isso porque HSBC Belas Artes e Espaço Unibanco Augusta são só dois, e o Bombril só passa dois filmes por vez, além de que outras opções às vezes são fora de mão, e daí o que nos resta são os bons e novos torrents. É uma pena, mesmo, porque a gente deixa de ver tanta coisa boa porque está fora do circuito Cinemark e porque não é alguma coisa contemplada pelo Oscar (e pela Globo), enquanto filmes como As Branquelas ganham notoriedade e até uns vários fãs, tipo uma sala inteira de aula tentando me convencer de que era um filme muito engraçado. Pelo amor de Deus, acho que nunca mais vou conseguir ver alguma coisa tão retardada.

O foda é que as aulas voltaram, e agora não tenho mais as noites livres pra ficar indo ao cinema. O jeito vai ser aproveitar como der os fins de semana e meu horário tão abençoado que me deixa ver filme de tarde, Lost de manhã e alguma coisa do tipo Ele Não Está Tão a Fim de Você do nada. Eu também tenho lá meus gostos... recrimináveis, e com certo orgulho. É melhor do que ser um chato pedante.

A "Melhor" Cena de Ação

É algo impressionante como isso é ruim... meu Deus do céu! hahaha Mas é tão ruim, tão ruim que chega a dar dó. Os efeitos sonoros, a pinta do ator, o cavalo que escorrega, os "efeitos especiais"... fora que eu nunca vi tanto carro saltar sem motivo, tanto jipe voar sem rampa nem nada, e carros que explodem em sequência. Agora, a pergunta: terá James Cameron se inspirado nisso pra fazer aquela cena com o cavalo no começo de "True Lies", da perseguição à moto?

"I'm like my mother, I stereotype. It's faster. "

Na onda dos indicados ao Oscar e do frenesi que se instalou em torno dos indicados, hoje eu fui ver o filme do George Clooney, sem nem saber direito do que se tratava. Amor Sem Escalas tem um nome horrível em português, considerando o filme, mas é muito bom, mesmo. E na hora de descrever, acho que eu diria que é o filme do George Clooney, simples assim, e impossível pensar muito diferente.

Poucas vezes saí do cinema com uma sensação de tanta tristeza num filme onde se dá risada, se torce e se tem uma história que parece... bem, não tão triste. E com uma sensação meio que de vazio, que é a que o filme deixa no final. Parece até piada que um personagem que tem que fazer tantas conexões como Ryan Bingham, que consegue atingir seu sonho (alguma ironia com a demissão de Bob?), que lida com tantas pessoas e tem família seja tão solitário, tão sozinho e consiga ser tão arrasado, considerando que estamos falando de Hollywood e de um filme que, ao seu modo, trata de amor. Claro, é mais do que isso, é sobre relações e pessoas, mas o amor está lá, nem que seja no horrível título no Brasil. E aí que vem a figura de George Clooney, o solteirão mais convicto do show business.

Colocar Brad Pitt? Não dá, ele é casado e todo mundo vê fotos dele com a Angelina. Ben Stiller e as caretas deles, não rola. Matt Damon, muita cara de bom moço. E poderia pensar em uma lista enorme aqui, mas teria que ser George Clooney, sujeito tão reservado quanto à vida pessoal, na idade certa, com a dose de cinismo certa para dar a convicção de que tudo que ele fala no filme sobre relações é algo em que ele efetivamente acredita. É mais ou menos como pedir para George Bush fazer um filme em que ele interpreta um figurão que acredita no uso da força para resolver problemas, algo assim.  O sujeito tem que dar credibilidade ao que diz, e nisso a escolha por Clooney foi perfeita, ainda que ele esteja longe de ser Oscar material, com esse filme. E o que me espanta é como alguém consegue ter idéias tão racionais e desapegadas de relacionamentos com outras pessoas, não sendo nenhuma surpresa que a tal teoria da mochila sirva tanto pra coisas quanto para pessoas, apresentado nessa ordem.

Agora, o melhor mesmo, talvez até do filme, é ver o que acontece. O cara não tem família, não tem muitos amigos, se sente rodeado de pessoas, gosta de viajar e detesta ir pra casa. De repente, aparece aquela mocinha nova, bonita (Anna Kendrick é mesmo uma gracinha) e cheia de ideais e teorias sobre relacionamentos, pra conviver com um cara que dá risada quando se diz que o amor é motivo para se casar (um dos melhores e mais interessantes diálogos do filme, seguido de um piti impagável), batendo de frente com duas pessoas que são, de certa forma, versões de si mesmos no sexo oposto, isso é, Ryan e Alex. E quando você acha que, depois de tanto rolo e pragmatismo, a coisa vai mudar... bem, a vida não é um mar de rosas, certo? Não é sempre que você vai bater à porta da pessoa, achando que sim, o amor pode dar certo e vencer, e vai, realmente, dar certo. A pessoa vai estar te esperando, como nos sonhos de muita gente. Mas ser chamado de "parênteses" é demais, até para George Clooney. Tanto que a impressão que se tem é a de que ele perdeu tanto o chão com isso e com um suicídio que, perdido, ele passa a se agarrar ao pouco que sobrou, como um conselho "bobo" sobre milhas e painéis de aeroportos, pronto pra fazer as únicas conexões que ele realmente sabia fazer.

O filme é, pra ser sincero, brilhante, especialmente pelo final nada hollywoodiano, e pelas atuações, pela frieza da coisa toda (à exceção da cena do casamento, que é realmente gostosa de se ver, com atores que parecem estar realmente se divertindo). Depois de fazer a gente acreditar que há uma salvação, até mesmo para Ryan Bingham (e para George Clooney?), que alguém tão peculiar vai cair no esteriótipo da pessoa com sonhos "comuns", vem o balde de água fria, e a vontade de nunca ouvir alguém dizer que eu sou a estrela no seu céu. Pode ser só a luz do avião.