"What we take for granted might not be here for our children."

O que você anda fazendo para ajudar a mudar nosso planeta, hein?

Lembrando que não é preciso ser o ex-Presidente da nação mais poderosa e poluidora que o mundo já viu, nem um grande empresário. E também que não são apenas as grandes e majestosas ações que fazem a mudança tão verdadeira quanto necessária. Cada um tem uma parte, desde nossos votos nas eleições até nosso dia-a-dia.

E hoje, você já fez alguma coisa?






"I've seen every possible ending."

Em 2007, Nicolas Cage, já meio careca / meio cabeludo, fez um filme chamado O Vidente (Next), que é bem meia-boca. Ele é um mágico (Frank Cadillac, sério?) de Las Vegas que consegue ver coisa de 2 minutos no futuro, e acaba sendo recrutado pelo FBI, depois de muita peleja, para ajudar a descobrir quem foi que levou uma bomba atômica (ou algo assim) para os EUA, e como podem ser impedidos. E... é isso. Ah, e a Jessica Biel tá um pitelzinho.

E daí que o filme tem essa premissa de ver no futuro, que é interessante e tal, foi baseado num conto do ótimo Philip K. Dick, mas dá pra imaginar um uso bem mais legal para o dom que o mágico tem no filme. São só 2 minutos, certo? Pois então, que tal poder ver esses minutos nos futuros em que você falasse aquelas coisas que sempre quis dizer pras pessoas, ver suas reações, e depois simplesmente voltar ao presente, antes de dizer?

Vamos exemplificar:

1. O namorado novo da menina chega em casa, e ela vai se trocar. Ele senta na sala, com os pais da garota, todo mundo sendo agradável, aquela coisa. De repente, ele vira e solta algo como um "Só pra avisar, já tracei sua filha, inclusive na cama de vocês, e ela gosta de quatro". Silêncio sepulcral. Os pais podem se insurgir, podem não falar nada, ou o pai ainda pode soltar um "Háh, a menina puxou pra mãe".

2. O empregado entra na sala do patrão e, sem mais nem menos, sem nenhuma explicação, lhe enfia o maior tapão na cara. Com gosto, mão espalmada, daqueles que deixam marca e fazem barulho ardido - praticamente uma raquetada de palma. Seria mais ou menos como Adam Sandler faz em Click (2006), mas sem pausar, com toda a ação rolando, e o patrão sabendo que foi o empregado quem lhe acertou.

3. (essa é muito mais de menino) O estagiário entra numa reunião com cliente importantíssimo e, no meio da dita cuja, depois de dar aquele bocejo digno de um babuíno (esse link vale a pena), dá uma ajeitada na cadeira, e solta um sonoro e malcheiroso peido. E faz aquela cara de "Que foi?" quando todo mundo olha pra ele.

Só que nada disso realmente acontece, você simplesmente vê essas reações tão diversas quanto divertidas. Diariamente dá pra pensar nisso, e ficar passando vontade, e não só com essas situações tão absurdas quanto cômicas, mas também em algumas mais sérias. Outro exemplo:

4. A namorada vira para o namorado e, na lata, lhe conta que foi infiel, que está só a fim desse outro, e que não tem muita certeza de que quer estar com ele, mas também não tem motivos pra terminar. A conversa começa assim, e os tais 2 minutos seriam insuficientes pra DR que viria depois, mas tomar a decisão de fazer uma confissão dessas requer colhões - ou peito, depende de quem vai ter que fazer.

Até caberia aqui alguma discussão sobre como na vida precisamos agir assim de vez em quando, simplesmente colocar as coisas pra fora sem pensar demais nas consequências, sermos honestos e tal, mas o legal mesmo de ter o tal dom do Frank Cadillac (ou Chris Johnson, que é o nome real do personagem) seria poder ver essas reações, tantas quantas fossem, algumas delas tão mais honestas do que nossas máscaras diárias permitem.

"C'mon. Lets go be psychos together!"

Assistir a As Vantagens de Ser Invisível (2012) dá uma sensação de nostalgia muito forte, doída até. Daquela época em que fazemos alguns daqueles que serão nossos melhores amigos. Descobrimos livros e músicas, que passam a ter significados maiores do que simples entretenimento. Temos as primeiras de tantas experiências. Conseguimos ser sinceros sem medo das consequências, a ponto de machucar pessoas. Somos ingênuos, and that's ok.

E por ser um filme que aborda o lado dos outcasts, ou "misfit toys", como o próprio Charlie define, as coisas ficam mais interessantes. Mais reais, porque são sobre pessoas que conseguem ver o que está acontecendo ao seu redor e pensar sobre isso, mesmo que seja demais. Aquele garoto que fica quieto no canto dele, e que todos acabam por achar meio estranho, com um livro no colo o tempo todo. Nada de garotões e meninas bonitas, ou mesmo as geek gatinhas que ninguém percebe até uma determinada festa, geralmente o baile de formatura. Gente que se reconhece e se aproxima, até num gesto de sobrevivência necessário.

Claro que há um senhor esteriótipo nisso, que hoje é até mais possível por causa da ascensão dos geeks e dessa coisa de ser cool, ou algo assim  (Sam já mais interessante, porque ela consegue transitar entre os "mundos", enquanto Charlie e Patrick já são mais restritos, ou mesmo Brad faz um tipo). Gente que antes era só aloprada passou a ser legal, e virou até meio modinha ser "diferente", ainda que nessa tanta gente acabe sendo mais forma do que conteúdo, até porque a própria ideia de "diferente" pode ser questionada, já que... bem, tem muita gente querendo ser, então não seria igual?

Mas Charlie, Patrick e Sam (a propósito, esqueça Hermione e se apaixone por ela, é impossível resistir) vão além disso. Fica difícil não se lembrar de Holden Caufield, resguardadas as devidas proporções; mas o bildungsroman (rápido e rasteiro, um romance de aprendizagem ou formação) é bastante gritante, e uma delícia de acompanhar, ao mesmo tempo que faz qualquer um se lembrar das próprias experiências ou lamentar por aquelas que não teve, que deixou passar por motivos que na época pareciam tão importantes e hoje são ignorados.

O negócio é que o filme é meio doído de ver, e não só por causa de alguns choques que ele pode causar com elementos bem pesados, mas por se ver nele, e por ver outros que estão sendo.

E também porque gente que diz gostar tanto de música boa demora horrores pra descobrir David Bowie. Essa não dá pra engolir, na era do Google. Sério.

"But guess what? Sunday's my favorite day again."

Talvez a indicação para o prêmio de melhor filme de O Lado Bom da Vida (2012) seja comparável àquela de Melhor É Impossível (1997), justamente por não serem duas mega produções, daquelas que levam as estatuetas por histórias mirabolantes ou pelo menos grandiosas. Ao menos é o que parece, inicialmente: não tem navio naufragando, e não se trata da história do presidente mais mitológico dos Estados Unidos, ou mesmo de um resgate espetacular realizado por - surpresa! - norte-americanos.

E são dois daqueles filmes cujos méritos estão, logo de cara, na escolha do elenco, mais do que apropriado para contar histórias que podem parecer simples mas que, na verdade, são humanamente grandiosas - e são histórias de amor, em ambos os casos. Ninguém aqui seria louco de colocar Bradley Cooper no mesmo patamar de Jack Nicholson, ainda que ele esteja melhorando cada vez mais. Jennifer Lawrence, no alto dos seus 22 anos, tem mais potencial de que Helen Hunt, que levou um merecidíssmo prêmio naquele ano, e temos um elenco de primeira como coadjuvantes: hoje, Robert De Niro, voltando a se destacar; em 1997, Greg Kinnear e Cuba Gooding Jr., surpreendentes e talvez sem nunca mais repetir atuações tão boas.

Mas bons atores não fazem verão, sozinhos. É impressionante como os dois filmes tratam de um gênero que é um perigo para clichês bobos, e melosos, sem (praticamente) nunca caírem neles. O Lado Bom ainda tem um agravante perigoso que é uma competição de dança, evento já explorado por Jennifer Lopez e outros tantos que... bem, são bonitinhos mas limitados. E essa parte é até bem previsível, mas mesmo assim não estraga o filme, longe disso. O enredo todo é tão bem construído, tão bem conduzido que você acaba por, pelo menos, estar disposto a ver um happy ending sem achar que isso vai ser um truque barato para agradar à audiência.

Isso porque são daquelas histórias tão possíveis, tão reais, e com pessoas (não ouso dizer "personagens") tão carismáticos, em situações tão possíveis e crivadas de possível que chega a deixar de ser filme, simplesmente. A ficção ganha ares de realidade a ponto de se querer o bem daquelas pessoas, que merecem mesmo coisas melhores. Que merecem uma chance de consertar, de arrumar a própria vida, que não foi arrasada por alienígenas, nem por mafiosos malvados ou supervilões: os únicos vilões são eles próprios, e seus problemas de vida real. Um mental breakdown, um marido que morre cedo demais, uma maternidade solteira, sérios transtornos obsessivo-compulsivos.

São filmes de e sobre gente que reconhece no outro alguém que é tão imperfeito quanto si mesmo, e por isso algo pode acontecer ali, por isso pode dar certo. A vida ganha outro sentido, entra nos eixos, e coisas simples, como jantares e elogios, ou jogos de futebol aos domingos, passam a ser tão importantes em dar à vida aquela perspectiva positiva, aquele lado bom.

"Gostei do cabra."

Apesar do que se lê sobre O Som ao Redor (2012), fica difícil "encaixar" o filme naquele tradicional fio narrativo que compõe, give or take, 90% dos filmes a que se assiste. A sinopse oficial traz o seguinte:

"A presença de uma milícia em uma rua de classe média na zona sul do Recife muda a vida dos moradores do local. Ao mesmo tempo em que alguns comemoram a tranquilidade trazida pela segurança privada, outros passam por momentos de extrema tensão. Ao mesmo tempo, casada e mãe de duas crianças, Bia (Maeve Jinkings) tenta encontrar um modo de lidar com o barulhento cachorro de seu vizinho."

E daí lá vai o espectador médio, aquela pessoa que curte ir ao cinema e ver filmes, com certa expectativa, considerando que o filme está bem cotado, muita gente comentando. Cinema brasileiro de qualidade, certo? Pois é, certíssimo!, mas a grande maioria das pessoas vai ter aquela reação de que acabou de ver um filme que não fala sobre nada, promete muito e não cumpre (é inegável a sensação no filme de que sempre vai acontecer alguma coisa), e que é uma bosta. Ou que é complexo demais, não deu pra entender Fuleco nenhum do que aconteceu.

Por que será que é tão difícil ser entretido pelo cotidiano, pelo nada que muitas vezes ocupa nossas vidas? Não é todo dia que um grande amor acontece; não é todo dia que alguém é sequestrado, e um grande herói parte em seu resgate; não é todo dia que temos desastres naturais e a frenética luta pela sobrevivência que se segue; não é todo dia que um grupo na escola decide fazer uma aposta, ou uma viagem, que mudarão a vida de todos os envolvidos; nem todo dia ciclos se fecham. Muitas vezes nossos dias são tão pacatos e "sem nada" quanto podem ser, com o cachorro do vizinho, a reunião de condomínio, a caminhada noturna, a festinha de aniversário, o sonho esquisito no meio da noite.

Mas também os detalhes fazem toda a diferença, em termos da narrativa, mesmo porque entrar no mérito do som do filme exige certo conhecimento técnico que pode minar qualquer comentário, por mais que seja gritante (háh!) a importância do recurso sonoro. São esses detalhes que mostram, de forma incrivelmente sutil, que o filme tem, sim, seus ciclos e que eles são concluídos; um dos quais é, sem dúvida nenhuma, o mais importante. Mas é um fechamento sutil, tanto quanto o começo, este numa foto que praticamente passa despercebida, e só quem é mais atento pra chamar a atenção, mesmo que 4 ou 5 dias depois.

Isso porque um filme sobre "nada" consegue ser daqueles que incomodam, levam a uma reflexão que dura dias. Sempre ali, incômodo, pronto pra dar uma pontada de que ainda existe mais por trás do que se viu, e que é um exercício até mesmo sobre nosso cotidiano "sem graça", em que não acontece nada - o que também é retratado no badaladíssimo Medos Privados em Lugares Públicos (2006), ou em tantos outros, mas que sempre se apoiam sobre acontecimentos fora do normal, que nos fazem parar a vida pra pensar, quando, na verdade, isso acontece todo dia, a toda hora.