"I'm like my mother, I stereotype. It's faster. "

Na onda dos indicados ao Oscar e do frenesi que se instalou em torno dos indicados, hoje eu fui ver o filme do George Clooney, sem nem saber direito do que se tratava. Amor Sem Escalas tem um nome horrível em português, considerando o filme, mas é muito bom, mesmo. E na hora de descrever, acho que eu diria que é o filme do George Clooney, simples assim, e impossível pensar muito diferente.

Poucas vezes saí do cinema com uma sensação de tanta tristeza num filme onde se dá risada, se torce e se tem uma história que parece... bem, não tão triste. E com uma sensação meio que de vazio, que é a que o filme deixa no final. Parece até piada que um personagem que tem que fazer tantas conexões como Ryan Bingham, que consegue atingir seu sonho (alguma ironia com a demissão de Bob?), que lida com tantas pessoas e tem família seja tão solitário, tão sozinho e consiga ser tão arrasado, considerando que estamos falando de Hollywood e de um filme que, ao seu modo, trata de amor. Claro, é mais do que isso, é sobre relações e pessoas, mas o amor está lá, nem que seja no horrível título no Brasil. E aí que vem a figura de George Clooney, o solteirão mais convicto do show business.

Colocar Brad Pitt? Não dá, ele é casado e todo mundo vê fotos dele com a Angelina. Ben Stiller e as caretas deles, não rola. Matt Damon, muita cara de bom moço. E poderia pensar em uma lista enorme aqui, mas teria que ser George Clooney, sujeito tão reservado quanto à vida pessoal, na idade certa, com a dose de cinismo certa para dar a convicção de que tudo que ele fala no filme sobre relações é algo em que ele efetivamente acredita. É mais ou menos como pedir para George Bush fazer um filme em que ele interpreta um figurão que acredita no uso da força para resolver problemas, algo assim.  O sujeito tem que dar credibilidade ao que diz, e nisso a escolha por Clooney foi perfeita, ainda que ele esteja longe de ser Oscar material, com esse filme. E o que me espanta é como alguém consegue ter idéias tão racionais e desapegadas de relacionamentos com outras pessoas, não sendo nenhuma surpresa que a tal teoria da mochila sirva tanto pra coisas quanto para pessoas, apresentado nessa ordem.

Agora, o melhor mesmo, talvez até do filme, é ver o que acontece. O cara não tem família, não tem muitos amigos, se sente rodeado de pessoas, gosta de viajar e detesta ir pra casa. De repente, aparece aquela mocinha nova, bonita (Anna Kendrick é mesmo uma gracinha) e cheia de ideais e teorias sobre relacionamentos, pra conviver com um cara que dá risada quando se diz que o amor é motivo para se casar (um dos melhores e mais interessantes diálogos do filme, seguido de um piti impagável), batendo de frente com duas pessoas que são, de certa forma, versões de si mesmos no sexo oposto, isso é, Ryan e Alex. E quando você acha que, depois de tanto rolo e pragmatismo, a coisa vai mudar... bem, a vida não é um mar de rosas, certo? Não é sempre que você vai bater à porta da pessoa, achando que sim, o amor pode dar certo e vencer, e vai, realmente, dar certo. A pessoa vai estar te esperando, como nos sonhos de muita gente. Mas ser chamado de "parênteses" é demais, até para George Clooney. Tanto que a impressão que se tem é a de que ele perdeu tanto o chão com isso e com um suicídio que, perdido, ele passa a se agarrar ao pouco que sobrou, como um conselho "bobo" sobre milhas e painéis de aeroportos, pronto pra fazer as únicas conexões que ele realmente sabia fazer.

O filme é, pra ser sincero, brilhante, especialmente pelo final nada hollywoodiano, e pelas atuações, pela frieza da coisa toda (à exceção da cena do casamento, que é realmente gostosa de se ver, com atores que parecem estar realmente se divertindo). Depois de fazer a gente acreditar que há uma salvação, até mesmo para Ryan Bingham (e para George Clooney?), que alguém tão peculiar vai cair no esteriótipo da pessoa com sonhos "comuns", vem o balde de água fria, e a vontade de nunca ouvir alguém dizer que eu sou a estrela no seu céu. Pode ser só a luz do avião.
2 Responses
  1. Eva Says:

    Vou deixar um comentário que já fiz ontem: besteira achar que o cara precisava de "salvação", e que a salvação viria de um amorzinho "arroz com feijão", de uma outra alma solitária precisando de salvação. Besteira. O cara era feliz. :)


  2. Anônimo Says:

    This post/comment contains spoilers:

    Fui ver Up in the Air (Amor Sem Escalas realmente foi uma tradução infeliz) esperando pra caramba, afinal era o diretor de Juno e Obrigado por Fumar, dois filmes que gosto demais. E não me decepcionei. Encontrei ali cenas comoventes e ao mesmo tempo cômicas, como as reações dos funcionários quando sabiam que seriam demitidos ou quando Natalie leva um fora do namorado e tem uma crise de choro (histérica?). Ah, não dá pra deixar de mencionar também uma em que fiquei com o coração partido: “You’re just a parenthesis.” Ouch.

    Enfim, partir do momento em que Ryan conhece e passa a conviver com Alex e Natalie, ele começa a questionar o que o faria verdadeiramente feliz (essas mulheres...). Aparentemente conseguir atingir o número fantástico de 10 milhões de milhas já não seria suficiente. Isso fica bem evidente quando ele diz uma frase ao noivo de sua irmã: “Everyone needs a co-pilot.” O cara que amava as situações que eu odeio (comidas de avião, procedimentos de aeroportos e afins) passa a conseguir enxergar a possibilidade de estabelecer conexões com pessoas, não mais somente nos aeroportos. E esse é o problema. Quando você enxerga o que poderia ser e, de repente, vê que aquilo não vai acontecer pra você, será que dá pra voltar à vida que tinha antes, sabendo agora o que você está perdendo? Ele era verdadeiramente feliz antes das duas terem aparecido. Depois de todos os acontecimentos a impressão que tenho é que ele vai continuar com seus vôos e trabalhos simplesmente por continuar, sem nenhuma motivação maior nisso. É bem assim, como às vezes a vida real também parece ser.