"Today is tomorrow. It happened. "

Não dá pra negar que a possibilidade de voltar no tempo e refazer certas (muitas) coisas é atrentíssima para qualquer um, especialmente pra quem já delicadamente enfiou os dois pés na jaca ao mesmo tempo, seja tomando aquele porre e fazendo merda, seja falando uma coisa infeliz que magoou alguém querido - pra não falar de ex. Só de imaginar a possibilidade, dá pra começar a viajar e até pensar se a gente faria alguma merda como o Ashton Kutcher em Efeito Borboleta. Mas não dá, né?

Só que eu queria porque queria ter um Dia da Marmota pra mim. Esse simpático roedor é o mote pra um dos filmes mais bacanas que tratam dessas possibilidades alternativas sem viajar demais (é... mais ou menos), mostrando como seria se a gente acordasse todo dia pra reviver um dia X (no caso, dia 2 de fevereiro, o Dia da Marmota - daí o nome do filme em inglês, que aqui tem o péssimo nome de Feitiço do Tempo). Não precisaria viajar pra quando eu quisesse, ou mesmo ter a chance de mudar o curso de uma guerra, impedir o assassinato de Getúlio Vargas ou dar impedir o homem de descobrir o fogo. Seria uma coisa muito mais simples, pessoal e egoísta, pra ser feito em 24 horas, sem direito a repeteco, até porque seria desesperador.

Eu ia querer poder dizer coisas que eu geralmente não digo, só pra poder ver as reações, principalmente. Quem nunca quis chegar pro sogro, por exemplo, e soltar um "O senhor pode nem imaginar, mas sua filha mete que é uma beleza, viu? Já fizemos de TUDO!," ou mesmo pros nossos pais e soltar umas coisas dessas? Andar pelado na rua, ou na casa de amigo ou namorado, como se não fosse nada, pra ver as expressões de incredulidade? Chegar em sala de aula e falar todo tipo de palavrão e contar piada, além de falar pros alunos queridos que você acha que todos ali são ou pelo menos agem como retardados, têm mais é que se fuder e isso sem eufemismos? Acho que eu ia querer também poder me "declarar" pra todo mundo por quem eu senti algum tipo de atração, de física a gostandinho, só pra saber se a pessoa teria topado. Realizar a mais louca fantasia sexual que eu tivesse, sem medo do que viria a seguir, seja DST ou filho ou mesmo fama. Pensei em ainda passar um xaveco em chefe, pra por um momento acreditar que aquelas coisas de filmes acontecem, ou então pedir demissão com um dedo do meio em riste, na frente de todos. Acho que eu ia fazer alguma coisa que devastasse qualquer tipo de economia que eu tenho ou possa ter, como fazer uma daquelas ponte-aéreas São Paulo - Miami que as novelas da Globo têm, e dirigir um Dodge Viper feito um louco num circuito. Tomaria, com certeza, uma bela xícara de chá de cogumelo, já no fim do dia, pra saber se a viagem é tão forte quando dizem ser.

Pra fechar o dia, faria o que o Bill Murray faz tantas vezes no filme: me mataria, pra ter a experiência do que é morrer, e saber o que é isso. Outro dia ainda tava pensando que é algo único, literalmente, mas é mind blowing só pensar na possibilidade de saber como é e voltar pra contar. Não, eu não tenho tendências suicidas, mas é a vontade de experimentar coisas, só isso. Agora, eu só não sei como faria isso, mas de asfixia ou algo do tipo é que não seria, Deus me livre. Nem dormindo, porque eu ia querer ver acontecer. Provavelmente voando, como que depois de pular de algum lugar, alto o suficiente pra não me estatelar no chão e continuar vivo e com dor.

Tudo isso em 24 horas, sem pretensões de causar o caos que se explica no "efeito borboleta". Só queria saber como as pessoas seriam, ou reagiriam, e ter a mais plena experiência de vida. Será que daria tempo pra fazer tudo? Na dúvida, eu queria que o Phil saísse do buraco pra falar do inverno pelo menos três vezes.
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