"So, why bullshit?"

Quando o Motörhead anunciou que voltava ao Brasil (e eu vou perder, de novo), me lembrei na hora de uma matéria na extinta Bizz sobre o show: é bom, porque você sabe o que vai ver, e não quer saber de nada de novo. Faz sentido, não? Ninguém iria a um show do Led Zeppelin esperando ouvir músicas novas. Ou mesmo o do Michael Jackson. Não, você sabe exatamente o que quer ouvir, e talvez a maior parte das coisas seja mais velha do que metade da platéia - e eles tocam, e por isso o show é bom.

Mais ou menos a mesma coisa acontece com certos filmes. De uns tempos pra cá, Hollywood entrou numa onda de voltar a séries "extintas", a começar por Rocky Balboa, passando por Duro de Matar 4.0, dando uma sapecada em Rambo IV e chegando, finalmente, a Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal e ao novo Velozes e Furiosos 4. Dos cinco filmes, curiosamente quatro deles são justamente os quartos de cada série, e é neles que eu quero focar, em especial em Harrison Ford e a dupla Vin Diesel e Paul Walker. Ano passado, depois de ver o filme com a Lígia, fiquei com isso na cabeça, mas hoje o VF 4 me deu a faísca que faltava.

A série de Indiana Jones é uma das coisas mais bacanas que o cinema, ou Hollywood, produziu. Aventura, bons elencos, charme, histórias empolgantes, boas cenas de ação, humor na dose certa... e vem esse quarto filme. Enquanto um filme de aventura, até que é bom, cumpre seu papel. Mas seu maior trunfo, ser um Indiana Jones, é justamente o que faz com que ele seja tão decepcionante. Talvez por ser meu favorito, mas A Última Cruzada é tão bom que parece ser até sacanagem ver esse último, um desrespeito. Uma história até que boa, mas o filme tem clichês, erros fatuais (perae, se Indy escolheu o cálice certo no terceiro filme, como ele pode ter envelhecido e seu pai morrido? Opa!), o Shia LeBeouf todo malandro - até demais -, e uma coisa que é irritante, mas dá pra entender. Entre A Última Cruzada e O Reino da Caveira de Cristal, foram longos (demais) 19 anos. Nem o Guns n' Roses demorou tanto pra lançar Chinese Democracy, mas aí são outros quinhentos. Daí, a pergunta: como trazer toda uma geração que nasceu entre os filmes para o que seria um Indiana Jones e, ao mesmo tempo, mostrar para todos os fãs que esse filme é uma continuação?

Isso foi justamente o que me fez pensar hoje, vendo carros pra um lado, mulheres e o Vin Diesel de regata o tempo todo - menos no fim. O primeiro filme da franquia, que é divertido e fez lá seu sucesso, de 2001, é bacana, sem dúvidas. Filme pra divertir, e é exatamente a isso que se propõe o quarto - e daí fazem sentido os títulos dos filmes em inglês, pela proximidade, porque eles conseguem algo que Indiana Jones tentou, mas escorregou: puxar pela memória. Como? Falas, carros, clichês, piadas. O Dodge Charger que Dom arrebenta no final do primeiro está lá (e faz parte de um erro absurdo, mas realmente grotesco do filme, mas seria spoiler contar), a "piada" com dever o carro de 10 segundos, a marca Corona da cerveja, a prece na mesa (diferente, mas como não lembrar?), mas pelo menos dessa vez os carros não parecem mais Hot Wheels pintados demais. Foram 8 anos e dois filmes bem ruins entre 2001 e hoje (na história, são 5), e esses "gatilhos" de memória cumprem bem o papel, até porque não fazem nenhuma referência a qualquer coisa que poderia ter se passado entre eles. Dá até pra assistir ao primeiro e ao quarto, e você pega tudo. Até mesmo o Brian parece ter esquecido seu lado mano malandro do segundo, o que ajuda pacas - deu pra perceber que eu gostei do filme?

Infelizmente, não dá pra se dizer o mesmo para Indiana Jones, até porque... bom, porque é um Indiana Jones, e ele não precisava socar coisas no meio pra fazer você pensar. Os primeiros filmes vêm de um tempo quando não se tinha essa enxurrada de coisas, são marcos no seu estilo e, sinceramente, quem não conhece que vá atrás - a caixa de DVDs existe pra isso, até empresto a minha. Colocar a arca de Caçadores da Arca Perdida no depósito, falar de Marcus Brody e fazer cara de choro, as piadas com o nome Junior... sei lá, ficaram forçadas, até porque elas eram colocadas no meio de tudo pra ver se alguém ali no meio do cinema soltava um "Ah, é mesmo!" e de repente tudo fazia sentido. Pode até ser juízo de valor (e errado), mas Indiana Jones não precisa disso, como eu já disse. O final "grande", exagerado, digno de uma superprodução que tem que apostar em efeitos especiais pra compensar o filme meia boca também deixa sua marca pra decepção, mas dá pra entender. Hoje, talvez, uma coisa simples como as cenas no templo do Santo Graal não fossem o suficiente, ao menos pra agradar a uma platéia de jovens que saem de filmes como Velozes e Furiosos 4 dizendo que são filmes bons. Não divertidos: bons. Pior ainda se for alguma porcaria do tipo Deu a Louca em Hollywood, porque gente pra achar bom deve ter.

No fim das contas, me vem que a frase do título, usada por Vin Diesel, é a verdade: pra que enrolar? Do mesmo jeito que Velozes e Furiosos 4 sabe o tipo de filme que é e o que pode fazer em cima disso, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal deveria ter feito. Fico aqui pensando na próxima sequência "ressucitada" que vamos ver, e rezando para que quem tiver o projeto nas mãos não faça asneiras, porque nós sabemos muito bem o que queremos ver, obrigado.
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