"You were my hero, Dicky."

Falar em filme com boxe é falar em qualquer um dos Rocky, a saga do lutador sofrido que sempre dá a volta por cima criado pelo Stallone - e que valeu um Oscar pro Sly, por incrível que pareça. E qualquer pessoa (ou cara, pelo menos) com mais de 25 anos deve ter ficado todo empolgado se foi ao cinema em 2007 ver Rocky Balboa e depois de tanta enrolação toca o tema dele na hora da luta final contra Mason "The Line" Dixon, uma espécie de Apollo Creed dos manos moderninhos. E foi difícil não conter a emoção, acompanhar a luta, desviar dos socos e vibrar com cada porrada dada, tanto pelo Rocky quanto nele.

Mas o fato é que Rocky Balboa é um personagem de ficção, ainda que bastante verossímil e carismático (menos na porcaria de Rocky V. Puta filme chato!). Há outros boxeadores em outros filmes, eu acho, mas esse ano Mark Wahlberg interpretou o real Micky Ward em O Lutador e Christian Bale deu show como o irmão problemático Dicky Eklund. De novo, história de boxeador com família, o cara sofrido, que vai se dar bem no final, e a platéia vai vibrar com ele. Até aí, ok.

Agora, o incrível é Christian Bale. Ele manda tão bem, mas tão bem que é impossível não simpatizar com ele e torcer por ele até mais do que pelo Rocky contra o Ivan Drago em Rocky IV. Só que ele não luta, a não ser contra policiais que descem o sarrafo nele. Quem luta, agora, é o irmão, Mick, enquanto Dicky, aos trancos e barrancos, do jeito dele, tenta ajudar, por mais que traga problemas ao irmão. Vivendo no saudosismo de uma única luta, de um futuro de "poderia ter sido", sem perceber a realidade (o programa da ESPN gravado durante o filme é a maior prova disso), da espiral downwards em que entrou, e sempre num claro caso de honest mistake, Bale rouba a cena, mais do justificando seu Oscar. Ver Micky se dar bem vai além de torcer por umas boas porradas e pelo lutador, mas você torce porque quem vai realmente ganhar é Dicky, mesmo que fora do ringue. Eu mesmo sempre achei boxe um esporte meio idiota (o que dizer, então, desses UFC da vida?), mas nunca fiquei tão emocionado e vibrante numa luta, pensando que cada soco bem dado por Micky é um soco na vida errada do irmão, que merece melhorar. Afinal de contas, o que dizer de um viciado em crack que consegue te fazer sentir simpatia?

O que é mais legal do filme, me ficou, é finalmente ver gente de verdade dando a volta por cima. Não é um Rocky Balboa, ou qualquer outro personagem que dá a volta por cima depois de uma separação, como alguma mocinha bonitinha. Agora é o cara feio, drogado, magrelo, malandro, que atrapalha - sem querer, e isso é o que ele tem de melhor, porque você sabe que ele não é um filho da puta, mas um cara que fez escolhas erradas na vida e paga por cada uma delas, sem querer passar as shares que o irmão recebe, sem querer. Quando a gente se acostuma a ver quem não presta se dar bem, é emocionante ver alguém que merece dar a volta por cima, e ainda de forma tão convincente quanto Christian Bale faz. A fala antes da luta final é o pico disso, que desarma a defesa ou desconfiança de qualquer um:

Dickie Eklund: Are you like me? Was just good enough to fight Sugar Ray? Never had to win, did I? You gotta do more in there. You gotta win a title. For you, for me, for Lowell. This is your time, all right? You take it. I had my time and I blew it. You don't have to. All right? You fuckin' get out there, and use all the shit that you've been through, all the shit we've gone through over the fuckin' years, and you put it in that ring right now. This is yours. This is fuckin' yours. 

Não são só os meninos que vibram e se emocionam com os socos que "Irish" Micky Ward acerta, ficando com a sensação de que o herói de verdade está de fora dessa luta.
2 Responses
  1. Mayte Hueza Says:

    "Só que ele não luta, a não ser contra policiais que descem o sarrafo nele."

    hahaha

    ok, then.


  2. Eu! Says:

    Sim! Bale consegue ser convincente e carismático... e não tem como não torcer para toda aquela família de desajustados!
    :)