"We threw away things people kill each other now."

Nomeando alguns: Mad Max (1979), O Exterminador do Futuro (1984), Akira (1988), Os 12 Macacos (1995), Eu Sou A Lenda (2007), A Estrada (2009) e, finalmente, O Livro de Eli (2010), que eu fui ver semana passada. Todos filmes com alguma coisa em comum: cenários mais ou menos apocalípticos, em que até o horrível Waterworld (1995) poderia entrar. Existem mais outros tantos filmes, aliás, que poderiam entrar na lista, mas só isso tá bom, até porque não é tão fácil assim achar fãs de ficção científica.

Herbert Marcuse, filósofo e sociólogo alemão nascido em  1898, um dos pensadores da chamada Escola de Frankfurt, se tornou bastante conhecido no Brasil a partir dos anos 60. Seu último livro, O Fim da Utopia (1980), póstumo, contém as participações de Marcuse em congestionadas e disputadíssimas discussões com os estudantes na Berlim de 1967, selando sua consagração como intelectual engajado que lhe valeria a caracterização de subversivo no Ocidente e ameaças de morte nos EUA.

E o que diabos uma coisa tem a ver com a outra, certo? Vou citar (em cor diferente) um trecho de Fernando Gabeira, retirado do livro Vida Alternativa: uma revolução do dia a dia (1985). Tem o download gratuito no site dele. Gabeira é o cara. Mas é assim:

"Marcuse não queria falar de coisas impossíveis, muito menos prolongar o existente. Veio para pregar uma ruptura completa; gerando o fim da utopia.

Todas as forças materiais e intelectuais que podem contribuir para realizar uma sociedade livre estão presentes no mundo de hoje. Se não atuam é porque a sociedade se mobiliza em peso contra a possibilidade de sua própria libertação. Mas uma situação desse tipo não é suficiente para chamar de utopia um projeto de transformação.

Em seguida, o velho filósofo falou algo que é bastante conhecido dos teóricos do III Mundo. Não há um sábio, disse ele, mesmo um sábio burguês, que seja capaz de negar a evidência de que é possível acabar com a fome e a miséria através das forças atuais de produção. Isto só não acontece por causa da desorganização sócio-política do Planeta."

Daí, eu volto à pergunta: o que todos aqueles filmes têm em comum? Bom, dizem que a arte imita a vida, ou que a vida imita a arte. Em qualquer que seja o caso, eu fico com medo, ao constatar uma coisa. Em todos os filmes, o tal cenário pós-apocalíptico é fruto não de um meteoro, não de alienígenas (esses nós sempre conseguimos expulsar no final, né Will Smith?) nem de catástrofes naturais. Não, senhor. Em todos os casos, de uma forma ou de outra, a grande desgraça que nos aconteceu fomos nós mesmos. Em uma guerra nuclear, acabando com o clime do planeta (ponto pra você, Kevin Costner!) ou mesmo através da nossa tão preciosa genialidade, encontrando a cura pro câncer ou mesmo criando máquinas lindas. Será que é tão ficção assim, ou estamos cada vez mais perto do que os filmes retratam?

Interessante que o texto de Marcuse, que li alguns anos atrás, fala justamente da perda da nossa capacidade não só de criar uma utopia, mas também de efetivamente imaginar uma, dadas as condições em que vivemos, que esmagam nossa capacidade de pensar em algo diferente, mas melhor. Tentei pensar em algum filme que mostre um futuro melhor, mas tudo que me vem à cabeça é algo relativamente igual a hoje (até o caso de Blade Runner, de 1982) ou pior, mas nunca algo melhor. O Demolidor (1993), filmão de ação de Stallone, mostra um futuro teoricamente bom, pacificado (quem leu Admirável Mundo Novo vai ter uma boa noção do que poderia ser o mundo como Huxley imaginou, e não vai se surpreender quando ver que Sandra Bullock se chama Lenina Huxley no filme), mas onde falta liberdade e, depois, vai dar merda, porque o mocinho ganhou.

Nós sabemos que dá mudar, temos condições, e não o fazemos. Quem pode, não o faz. O mundo parece cada vez mais desorganizado, e indo mais e mais rápido pro buraco, e os filmes mostrando isso (e o BBB também). A vida imita a arte? A arte imita a vida? Seja qual for o caso, estamos danados.
2 Responses
  1. Star Trek não é pessimista quanto ao futuro. A humanidade explorando o universo. Progresso.

    De todo modo, o futuro apocalíptico vende mais. É tudo pelo drama, pra capturar as pessoas pelo sadismo do subconsciente.


  2. Anônimo Says:

    Dá uma olhada nesta lista:

    http://www.popcrunch.com/the-16-best-dystopian-books-of-all-time/

    Alguns já viraram filmes. Outros bem que poderiam também.