É praticamente impossível passar mais da metade dos 122 minutos de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain sem um sorriso no rosto, daqueles bobos mesmo, de quando simplesmente você se sente bem, se sente feliz. E talvez essa seja a grande missão, ora ingrata, do filme, com todos os seus detalhes que, de tão ricos, são praticamente impossíveis de ser digeridos em uma assistida só. O visual do filme beira à moldura, perfeita para uma heroína de sonho como Amélie é, perfeita na pele da fofíssima Audrey Tautou. É uma experiência de sentidos o filme, e é daqueles que faz o coração sair até mais aquecido.

O duro, por outro lado, é justamente isso. Essa inocência ao ajudar me lembra muito o garoto Trevor McKinney (vivido por Haley Joel Osment, clone do meu primo quando mais novo), de A Corrente do Bem. Pra quem não sabe, o garoto tem uma idéia de que, se cada pessoa ajudasse três outras pessoas, o mundo seria um lugar melhor. Quem fosse ajudado teria de "passar" isso, ajudando três pessoas, que teriam, cada uma, de ajudar outras três pessoas, numa PG, e por aí vai. A idéia é simples, até, e poderia funcionar, mesmo que a gente não leve o Jim "JC" Caviezel pra casa, e ele salve uma mulher do suicídio depois. Só que Trevor tem 12 anos, e como Amélie, acredita que pode mesmo mudar o mundo, tendo até um relativo sucesso, como a trágica e linda cena final do filme mostra. Will Smith também já mostrou seu lado humanitário em Sete Vidas, que é bem bom e igualmente trágico, mas não movido por inocência, e sim por culpa, remorso ou o que for. Será que não dá pra ser movido por... sei lá, pura vontade de ajudar aos outros, ao mesmo tempo em que se pensa nos problemas no trabalho e se fala um palavrão sem motivo, por pura falta de paciência com bobagem?

Não sei se é tão simples ser Audrey Tautou, Haley Joel Osment ou Will Smith na vida real, mas acho que é tudo uma questão de cada um tentar dentro das suas capacidades. Eu tento e, acho, sou até bem sucedido, nada de Madre Teresa. Mas dia sim, dia não, preciso me dizer que não sou um cara ruim, nem que seja cantando a música do Superguidi e me convencendo que Trevor está certo, ("I guess it's hard for people who are so used to things the way they are - even if they're bad - to change. 'Cause they kind of give up. And when they do, everybody kind of loses.") e que eu não vou ser uma das pessoas que simplesmente desistem. Algumas pessoas podem nem ligar, mas eu sinto que perco comigo mesmo, no mínimo.
Mais difícil que encontrar boas ações por aí, é encontrar altruísmo.
Assim como você, prefiro acreditar que Amélie ajuda os outros pelo simples prazer de fazê-lo. E talvez por isso não existam tantos heróis como ela. É difícil você se doar, nem que seja um pouco, pra alguém sem esperar nada em troca. É errado. Mas às vezes é inerente.
(Já falei que achei esse um dos seus melhores posts?)
São tempos difíceis para os sonhadores... rs
Concordo quando escreve que é praticamente impossível não sorrir no filme, além da sensação de “felicidade, pura e simples”.
No início fiquei meio revoltada com os pais de Amelie pela forma que a criaram porém, ao final, percebi que isto fez dela uma pessoa especial, meiga e inocente, que consegue enxergar cada detalhe da vida e dar sentido a eles. E o mais bonitinho, ela se doa sem esperar nada em troca.