
Sem entregar o final do filme, é uma história sobre o plano de extração de 6 funcionários diplomáticos do Irã após a revolução islâmica de 1979, já que esses seis conseguiram fugir da embaixada e se refugiaram na casa do embaixador do Canadá, eh? Não é preciso ser um gênio para saber que alguma coisa deve ter dado certo, de um jeito ou de outro, ou então o filme dificilmente seria produzido. Do mesmo jeito como ninguém quer ver gente feia e pobreza de verdade na TV, duvido que a plateia do cinema vai lá querendo ver planos arriscados e ousados para salvar pessoas dando errado e gente sendo executada. Seria mais ou menos como fazer algo como À Procura da Felicidade (2006), com o Chris não conseguindo o emprego no fim e o filho sendo levado para algum abrigo pelos social services.
Mas isso tudo parte de um pressuposto: saber que os filmes foram feitos com base em fatos reais. Sobre Argo, um questionamento muitíssimo pertinente: será que se fosse pura ficção, as pessoas estariam dispostas a "engolir" que aquilo tudo foi feito mesmo, daquela forma? Pontos mil para Ben Affleck e a produção, com o cuidado técnico e histórico, com as rezas nos momentos certos, mas e o cerne da coisa? Será que se Tony Mendez fosse simplesmente alguém da cabeça do roteirista, o filme faria tamanho sucesso, ou as críticas seriam no sentido de um filme "fantasioso demais"? Se alguém consegue imaginar, deve ser no mínimo porque seria passível de ser feito, right?


Mesma coisa pra filmes de terror: A Bruxa de Blair (1999) causou alvoroço, mas não apenas pela qualidade da história, mas sim porque poderia ter sido verdade. Real, não arte. Veio Atividade Paranormal (2007), e foi a mesma ladainha, sendo que muita gente se mostrava decepcionada quando descobria que a casa usada era a do diretor do filme, até. Prefeririam que fantasmas e possessões demoníacas numa casa fossem realidade?
Se a arte imita a vida, por que é que cada vez mais precisamos desse lastro de veracidade, que supostamente dá a credibilidade necessária ao filme? Por que a ficção tem que ser só filme de assalto, de robôs ou coisas assim, ou sobre histórias que sempre acabam bem, de uma forma ou de outra? Sobre planos que, de tão geniais, nem parecem reais, sem nem chegar aos absurdos (tão legais!) da série Missão: Impossível?
Ainda há pouco tempo escrevi sobre Sete Vidas, até sobre como é difícil imaginar alguém tão bom quanto o Ben do filme na vida real, sem ser movido por remorso ou culpa ou algo maior e egoísta até, mas me pergunto se isso mudaria caso o filme fosse "baseado em fatos reais".